Chao Yun Irene Yan ressalta que
o processo de regressão da célula-tronco
adulta para a embrionária é bastante
complicado: “A repressão gênica é muito
difícil de estudar, porque é a
ausência de alguma coisa. É muito
mais difícil entender o conceito
de zero do que o de um e dois.”
“Você tem que trabalhar
com várias possibilidades, para
depois ver qual a melhor alternativa.” Lígia
da Veiga Pereira
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De fato, artigos publicados pelas revistas
científicas Nature e Cell
Stem Cell em 7 de junho deste ano
revelam que pesquisadores dos EUA e do
Japão retiraram células comuns
da pele de camundongos e conseguiram reprogramá-las
para que elas se comportassem como células-tronco
embrionárias.
No entanto, a embriologista e professora
da USP Chao Yun Irene Yan ressalta que
esse processo de regressão da célula-tronco
adulta para a embrionária é bastante
complicado. Ela explica que, como as células
adultas se encontram num estágio
mais avançado, alguns dos seus genes
são silenciados, a fim de que outros
se manifestem. Por isso, descobrir quais
foram os genes reprimidos e retornar ao
estágio de indiferenciação
inicial não é uma tarefa
simples. “A repressão gênica é muito
difícil de estudar, porque é a
ausência de alguma coisa. É muito
mais difícil entender o conceito
de zero do que o de um e dois”, esclarece.
Segundo Lígia da Veiga Pereira,
professora do Departamento de Genética
e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências
da USP, o feito dos cientistas americanos
e japoneses é uma prova da necessidade
das células-tronco embrionárias. “Se
eles não tivessem podido usar as
embrionárias dos camundongos, não
teriam conseguido descobrir como fazer
a transformação”, afirma.
Apesar de considerar essa possibilidade
de regressão uma boa alternativa à utilização
de embriões, Lígia acha que
a ciência não deve apostar
todas as suas fichas apenas nisso. “Esse
trabalho é fantástico, no
sentido da plasticidade das células,
e resolve o problema da incompatibilidade
porque possibilita o uso de células-tronco
do próprio indivíduo que
vai recebê-las, eliminando o risco
de rejeição. Mas você tem
que trabalhar com várias possibilidades,
para depois ver qual a melhor alternativa.”
Por outro lado, Alice Ferreira afirma
que vida humana começa com a fecundação
e deve ser respeitada. “Na primeira divisão
celular já está definido
o que você vai ser. Isso não é um
conceito ultrapassado”, atesta. Irene Yan,
por sua vez, embora ressalte que a determinação
do início da vida não é uma
preocupação da ciência,
admite que quando acontece a fecundação,
forma-se um ser singular: “Do nosso ponto
de vista, quando não se implanta
um embrião, perde-se um indivíduo único.
Aquele embrião você nunca
mais vai ter”.
Para a geneticista Mayana Zatz, a pesquisa é uma
maneira de evitar que embriões congelados
sejam simplesmente descartados, sem destino. “Esses
bancos de embriões existem e vão
continuar existindo. O que a gente tem
que fazer, é respeitar a maioria.
A academia de ciências de 66 países
apóia essas pesquisas. Se eu sou
contra, eu não vou doar meu embrião
e não vou fazer a pesquisa. Mas
eu não posso impedir que os outros
façam.”
Lígia Pereira acredita que os embriões
não devem ter o mesmo status e os
mesmos direitos de uma pessoa que já nasceu.
Por outro lado, ela assevera que eles não
são um material trivial ou um simples
conglomerado de células e devem
ser tratados com respeito. Em sua opinião,
uma forma de fazer isso é utilizá-los
apenas em pesquisas realmente importantes,
que tenham um grupo de cientistas extremamente
qualificado.
A estudiosa de bioética, Elma Zoboli, é contrária
a essa idéia: “A vida humana tem
valor em si. Não se devem estabelecer
escalas de valor. Ao destruir um embrião
para poder pesquisar, você tem que
pensar que está negando uma solidariedade
ontológica às pessoas que
são da comunidade humana”, justifica.
Aqueles que são estritamente contrários à utilização
desses embriões vêem na adoção
uma das soluções possíveis.
Há, na Itália, na Espanha
e nos Estados Unidos, por exemplo, casos
em que um embrião foi adotado, implantado,
nasceu e hoje está vivo. Mayana,
por seu lado, refuta a idéia. “Eu
acho uma aberração, num país
como o nosso, com tantas crianças
abandonadas, você adotar um embrião.
De qualquer maneira, existem inúmeros
casais que dizem. Eu não quero meu
embrião implantado no útero
de ninguém, mas permitiriam que
eles fossem usados em pesquisas que salvassem
vidas, como a gente imagina que vai acontecer
no futuro”, argumenta.
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