Este trabalho apresenta um modelo de Equilíbrio Geral Computável interestadual, totalmente operacional, calibrado para a economia brasileira, que busca quantificar a influencia das barreiras comerciais para crescimento econômico e a performance de comércio, assim como avaliar de que forma a distribuição da atividade econômica é afetada quando o país se abre ao comércio internacional. Dentre as características de maior destaque presentes no modelo, a modelagem de economias de escala externas, eficiência portuária e custos de transporte terrestres e marítimos proporcionam uma maneira inovadora de lidar, explicitamente, com questões teóricas relacionadas a sistemas regionais integrados. Visando ilustrar o papel desempenhado pela qualidade da infra-estrutura e da geografia econômica na performance de comércio inter-regional e internacional do país, um conjunto de simulações é apresentado, onde as barreiras de ao comércio são significativamente reduzidas. A importância relativa de tarifas de importação (e exportação), eficiência portuária e custo de transporte marítimo, para as relações de comércio do país e seu crescimento regional, é, então, detalhada e quantificada, tanto para cenários de curto quanto de longo prazos. Um conjunto final de simulações discute os efeitos da liberalização comercial sobre a desigualdade regional, onde o setor de manufaturas do estado de São Paulo, considerado o núcleo da atividade industrial no país, é sujeito a diferentes níveis de retornos crescentes (externos) de escala. Efeitos de curto prazo do tipo “Centro-Periferia” são detectados e caracterizados, sugerindo que a predominância de forças de aglomeração sobre forças de dispersão podem mesmo exacerbar a desigualdade regional existente no país, na medida em que barreiras de importação são removidas até um determinado nível. Níveis superiores de abertura podem reverter este equilíbrio em favor das forças de dispersão, implicando em desconcentração da atividade econômica. No longo prazo, a mobilidade de fatores permite uma melhor caracterização do balanço entre forças de aglomeração e dispersão em nível regional. Efeitos regionais de dispersão da atividade econômica são claramente detectados, sugerindo que liberação do comércio internacional pode ser benéfica tanto para o estado de São Paulo quanto para as regiões mais pobres do país. Se por um lado este resultado revela a fragilidade de alguns dos resultados teóricos recentes da Nova Geografia Econômica – quando contrapostos a sistemas reais, espacialmente heterogêneos e complexos – por outro lado parece capturar o principal insight desta mesma literatura: o possível papel de políticas liberais horizontais de comércio como forças de dispersão, levando a um padrão mais homogêneo de crescimento econômico inter-regional.
Autor: Lucas Pedreira do Couto Ferraz
Orientadora: Maria Cristina Trindade Terra (EPGE/FGV-RJ)
Co-orientador: Eduardo Amaral Haddad
Ano: 2010