Instigada pelo desfalecimento de Riobaldo na batalha final entre Hermógenes e Diadorim, no romance Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, pretendo discutir o desapossamento do sujeito no momento crucial do enredo, tendo como pano de fundo intersecções da psicanálise
com estudos interpretativos da tragédia de Hamlet. A impossibilidade de ação do narrador/protagonista, que na face do chefe jagunço Urutu-Branco sente a potência do corpo
esvair-se, define o desenlace trágico do romance. A cena mobiliza uma reflexão sobre o ato e sua inibição, buscando novos planos de sentidos simultâneos ao caráter fáustico inequívoco. O combate fatal e o pacto serão articulados de forma a revelar imprevistas identificações fantasmáticas do protagonista em sua travessia. Freud e Anatol Rosenfeld serão mobilizados para construir um pensamento que ilumine a trama em seus aspectos temáticos e estilísticos.
A partir do ensaio “O homem dos avessos”, em que Antonio Candido analisa a obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, pretendo mostrar o que chamo de dupla navegação do ensaísta no modo de compor a análise. Trata-se de desentranhar do caminho analítico justamente o movimento duplo e ambíguo que Candido surpreende no autor mineiro, qual seja, a oscilação entre os passos enraizados no realismo, herdeiro da vertente crítica dos anos 30, e o voo inventivo e criativo que singulariza escritor e crítico. Selecionando passagens notáveis do ensaio, busco examinar essa dupla flutuação como procedimento crítico analógico à temática estudada por Candido.
Este estudo pretende analisar o conto ?Famigerado?, de Guimarães Rosa, à luz das Formas Simples, de André Jolles, e da psicanálise. O texto é lido como uma adivinha às avessas, invertendo as posições do inquiridor e do questionado. Tendo como fundo a modernização do sertão nos anos 60, o embate entre o letrado e o jagunço revela tensões e ambigüidades, abordadas pela estilística e pela psicanálise.
Analisando o conto Desenredo, de Guimarães Rosa, este ensaio mostra a importância de algumas de suas estratégias estilísticas, tais como o uso da paranomásia, linguagem infantil, chistes e trocadilhos, como um meio de subverter ou reconfigurar a realidade, relacionando os procedimentos literários de Rosa com O chiste e suas relações com o inconsciente, de Freud, e com Formas simples, de André Jolles. Traído por sua mulher, o anti-herói do conto, Jó Joaquim, arranja para si mesmo uma nova narrativa de seu destino, na qual um final cômico e inesperado reassegura sua felicidade; o papel dos chistes na economia libidinal, revelado por Freud, encontra, assim, no conto de Rosa uma ilustração convincente.
O presente artigo pretende discutir três contos de Guimarães Rosa, do livro Primeiras Estórias, em torno da temática da desrazão e suas diferenciações com a loucura. Parte-se de algumas considerações psicanalíticas sobre as relações entre arte e patologia, do ponto de vista da criação, para em seguida focalizar nos contos o modo como as personagens expressam um território não abarcável pela ciência positiva, a que Foucault denominou "Pensamento do Fora". Entre a sanidade domesticada e a loucura, Rosa dá voz à desrazão em personagens de um sertão desconhecido.
Pretende-se cotejar o conto “O Alienista”, de Machado de Assis, inserido em Papéis avulsos (1882), com o conto “Darandina”, de Guimarães Rosa, publicado em Primeiras estórias (1962). Ambos abordam, de modos distintos e contundentes, as relações entre o poder e o discurso psiquiátrico. Considera-se, ainda, que Guimarães Rosa tenha dialogado explicitamente com o texto machadiano, assim como fez em sua réplica homônima ao conto “O espelho”, também de Machado.
Partindo do conto “O espelho”, de Guimarães Rosa, a autora busca algumas aproximações entre cinema, literatura e psicanálise, discutindo aspectos referentes ao imaginário e seu enlace com o real.