Este ensaio analisa a trajetória do personagem Chefe Zequiel (“Buriti” – Noites do sertão). Destacamos dois eixos interpretativos: o lugar social que o Chefe ocupa e sua relação com a noite. Nos delírios de Zequiel é possível ler a explicação mitológica do nascimento da noite e o prenúncio de novos tempos.
Este trabalho objetiva tecer considerações sobre o contador de estórias no projeto estético-literário de Guimarães Rosa. Para tanto, procederemos a uma breve revisão da crítica rosiana, destacando clichês, para, a seguir, aprofundarmo-nos em aspectos desse projeto, como a noção de regionalismo deste autor, o seu trabalho com a linguagem e a figura do contador de estórias, de matriz oral, que será por nós interpretada como um narrador atuante em tempos modernos. Faremos uso da figura de diversos contadores de estórias que surgem em obras de João Guimarães Rosa, nos fixando em especial nas novelas “Buriti” e “Cara-de-bronze”. Nosso objeto de estudo configura-se basicamente como uma indagação: que faz a ancestral figura do contador de estórias em uma narrativa moderna? Nossas considerações desejam oferecer trilhas, pistas, para se compreender o lugar que ocupa a categoria contador de estórias nos textos de Rosa, categoria essa haurida da literatura oral.
Este artigo tem por objetivo investigar o modo como são configuradas as transformaçõesem “Buriti”, novela de Noites do Sertão, de Corpo de baile (1956), de João GuimarãesRosa, especificamente a partir da chegada de Lalinha (Lala/Leandra), que desencadeiamudanças na ambiência até então fechada da estância Buriti Bom, espaço arquitetadoficcionalmente para ser um paraíso. Essa personagem citadina estabelece relações com IôLiodoro, seu ex-sogro, e Maria da Glória, sua ex-cunhada, introduzindo na fazendaenergias eróticas e sedutoras capazes de instituir fissuras no sistema patriarcal plasmadopela narrativa. No espaço ficcional em que as ações ocorrem, nota-se que as experiênciassexuais e o erotismo são vivenciados apenas para além dos muros da propriedade, comose fossem proibidos no interior da fazenda. Com a chegada de um elemento femininoexterno, os desejos se aguçam e a vivência da sexualidade desperta uma série demudanças na rotina da fazenda: a noite passa a ser um dos momentos mais agitados,quando os personagens entregam-se à possibilidade de conhecerem a linguagem de seuscorpos e suas vontades. O narrador coloca, em oposição a Lalinha, a personagem MariaBehú que, com suas rezas e sua alusão ao passado, tenta defender o mundo do BuritiBom de mudanças severas, como a vivência dos prazeres carnais. Esta narrativa pode serlida como a abertura de um complexo ambiente e de seus habitantes ao erotismo e àsensualidade como maneiras de reconhecer a si e ao outro.
Este artigo tem por objetivo estudar de que modo é figurada a morte da personagem Maria Behú, de “Buriti”, Noites do sertão (1956), de João Guimarães Rosa e os símbolos que a ela se agregam. Para tanto, investigamos as focalizações narrativas que incidem sobre Behú, construindo sua imagem como beata, assexuada, atuante na esfera da metafísica, sendo a sua morte o início da intensa vivência da sexualidade pelos demais personagens. “Buriti” narra a estória dos habitantes da fazenda Buriti Bom e daqueles que por lá transitam e as mudanças que ocasionam na vida uns dos outros. Behú é a personagem que mais contrasta com o ambiente, pois dele difere por não apresentar marcas de erotismo ou vida plena. Behú funciona na novela como guardiã da tradição e da cultura, seus usos e seus costumes, estilizados pela linguagem roseana.
Este artigo analisa o conto “Retrato de cavalo” constante em Tutaméia – terceiras estórias (1967) do escritor mineiro João Guimarães Rosa. Abordaremos a relação das personagens com a realidade e com a representação dentro da narrativa, focalizando a fotografia do cavalo e os sentidos que a ela se agregam. Procuraremos mostrar como em algumas passagens os signos de luz e sombra ligam-se à representação, a qual desestabiliza ao máximo os objetos representados e demais personagens. Para tanto, dialogaremos com Platão, Merleau-Ponty, Blanchot e Barthes sempre que julgarmos necessária essa interlocução.