Riobaldo, ao narrar ao seu hóspede sua saga no sertão, além de contar sobre suas batalhas, sobre o pacto com o diabo e sobre Otacília e Diadorim, comenta também encontros marcantes que teve com prostitutas. A visão que o jagunço tem delas, porém, não é a socialmente legitimada naquele espaço; é uma imagem que, de certo modo, não é familiar ao sertão e aos seus companheiros de batalha. Em Grande sertão: veredas, as prostitutas Nhorinhá, Maria-da-Luz e Hortência estão em relações complexas com o ex-jagunço e com as outras mulheres que fazem parte da história dele.
Objetiva-se apresentar leitura do conto "A Estória do Homem do Pinguelo", de Guimarães Rosa. Trabalhar-se-á o papel da alteridade na constituição da identidade, seja no que diz respeito aos narradores presentes no conto, seja no que diz respeito às personagens. Concluir-se-á que, em "A Estória do Homem do Pinguelo", o conhecimento da alteridade conduz à conquista da identidade, podendo, a partir deste conhecimento, melhor efetivarem-se os desígnios já determinados pelo destino. Alcançar-se-á, pois, o vínculo do conto com o trágico.
A proposta deste trabalho é apresentar o estudo da obra “Campo Geral” (1976) de Guimarães Rosa centrado na análise da personagem Miguilim em seu percurso de formação. Há, nesta narrativa, o acompanhamento da consciência do protagonista e o privilégio de se conhecer o crescimento da força e da liberdade interiores da criança em condições adversas. Ao lado da natureza, o contato com o microcosmo familiar do menino prepara-o para a saída do Mutum e para enxergar o mundo. A análise dessa trajetória pretende destacar aproximações com o romance de formação Emílio (2004) de Jean-Jacques Rousseau.
A proposta deste trabalho é mostrar de que modo as personagens nas narrativas de Guimarães Rosa aproximam-se quanto à capacidade de contarem histórias. Em "Campo geral", o menino Miguilim conta histórias que levam à incorporação do saber, isto é, a dor e o conhecimento adquiridos pelas perdas são transmutados em histórias inventadas pelo menino, cujo enredo é constituído de partes de sua vida. Brejeirinha de "Partida do audaz navegante" também narra histórias para outras crianças, isoladas do mundo adulto. A análise dessas narrativas pretende mostrar de que maneira essas personagens transfiguram a realidade da infância e elaboram a aprendizagem por meio da capacidade inventiva. Grivo, personagem de “Cara de Bronze”, apesar de não pertencer ao universo infantil, realiza a trajetória de um contador em busca de experiências, de visões da beleza e aproxima-se dessas personagens contadoras.
A idéia de agon e de diálogo entre obras da literatura brasileira deve orientar a interpretação de nossa historiografia no que se refere à produção de escritores como Alencar, Guimarães Rosa e Machado de Assis. A mudança de perspectiva no que se refere à aceitação de um sistema literário forjado pela semelhança entre autores demonstra que a predileção autoral e crítica por romances regionalistas, freqüentes na história da literatura brasileira, só pode ser efetuada por meio de uma perspectiva pós-moderna. A compreensão da história da literatura brasileira passa pelo deciframento de um sistema forjado pela dessemelhança.
O objetivo deste artigo é discutir a teoria da personagem de Segolin (1978) e a sua aplicação na personagem Miguilim, da narrativa de Guimarães Rosa: Campo Geral. Mostrar e valorizar a construção do texto por meio da personagem.
O objetivo deste trabalho é fazer um estudo comparativo acerca das personagens principais dos contos “A benfazeja”, do livro Primeiras estórias, de Guimarães Rosa, e de “A Rosa Caramela”, publicado no livro Cada homem é uma raça, do escritor moçambicano Mia Couto. Mula-Marmela remete à protagonista, que livra o povo de um mal que pesa sobre o lugarejo. Já Rosa Caramela é uma personagem diferente, pois age de uma maneira excêntrica e é excluída da comunidade onde reside. Busca-se a articulação entre elas pela presença nos lugares onde vivem destacando-as pelas suas diferenças, enfatizando o narrador e a construção narrativa.
Sarapalha, conto presente no livro Sagarana, de João Guimarães Rosa, apresenta-se como um importante texto para o mapeamento de questões sociológicas do interior de Minas Gerais – mais especificamente as margens do rio Pará – demonstrando os processos migratórios e a escravidão social e pode ser analisado sob o viés da temporalidade, da ambientação e da mobilidade das personagens que demonstram o processo de decadência do patriarcalismo no Brasil. A sensibilidade artística de Guimarães Rosa nos apresenta um retrato geográfico, social, histórico e narrativo de ampla significação e múltiplos sentidos que apontam para o íntimo do ser humano e para os conflitos que podem ser despertados por personagens silenciosas que transitam e migram em meio a personagens concretas e observáveis para os padrões literários, como concluímos neste artigo.
João Guimarães Rosa, no cenário nacional e também externo, destacou-se pela primazia em traduzir em palavras o mundo e, indubitavelmente, a representação literária do humano e do sertão, universalizando-os. Nos idos de 1956, surge o Grande Sertão: Veredas, numa tessitura ficcional que evidenciou, em suas estórias e causos pitorescos, a diferença em relação à literatura produzida até ali. Nesse sertão roseano, Diadorim e Riobaldo encerram o mundo, em experiências metafísicas da presença na ausência. A abordagem metodológica desse trabalho utiliza-se da representação social, fictícia e literária e se constatou, nesta investigação, que o sertão roseano, com a caracterização da personagem Diadorim, em representação fluida, acorre e concorre para a possibilidade do empoderamento feminino. Nesse espaço ficcional, a literatura enquanto representação delineia o fluxo contínuo do artístico e cultural, no longo dito e não dito do Grande Sertão: Veredas. Para essa discussão, problematiza-se o sertão roseano e suas imbricações com as relações de gênero, a partir do escopo teórico dos seguintes autores: Antonio Candido (2014), Beth Brait (1985), Erich Auerbach (2013), Terry Eagleton (2006), Walter Benjamim (1994); Jacques Derrida (2004), Michelle Perrot (1995), entre outros.