Leitura de aspectos da cultura popular, presentes no processo de construção ficcional de Guimarães Rosa, o “contista de contos críticos”, que confessara: "Não preciso inventar contos, eles vêm até mim”. Pela alquimia da palavra em seu estado primitivo, a fusão do real e ficcional com o obsessiva defesa de que "a legítima literatura deve ser vida". A multiplicação do imaginário rural mineiro na narrativa rosiana, especificamente, em contos de Tutaméia e Ave, Palavra. Historia e estória no cotidiano do povo do sertão mineiro. Pelo jogo da memória narrativa popular, a construção da identidade cultural sertaneja e a recriação do mito: "No sertão, o homem é o eu que ainda não encontrou o tu: por isso ali os anjos ou o diabo ainda manuseiam a língua".
Propõe-se uma leitura da geografia poética no discurso ficcional de Guimarães Rosa e em poemas de
Manoel de Barros, enfatizando a presença da terra como identidade cultural. O espaço é demarcado poeticamente pelo escritor mineiro: registro da memória e das estórias orais, pela experiência do sertão que “vige dentro do homem”. E em Barros, a representação espacial configura a opção linguística e existencial por uma poética das “ignorãças”, enfatizando as “grandezas do ínfimo”, recolhidas dos “aguamentos” e do lodo viscoso do pantanal.
Considerações sobre o sertão e o sertanejo, revisitando o discurso literário em Euclides da Cunha, em Os Sertões e Guimarães Rosa, em “Pé-duro, chapéu-de-couro”. Pela escrita jornalística e literária, esses autores brasileiros lançam o olhar crítico e intensamente humano sobre o homem, a terra e a luta, elementos já cristalizados na leitura dos sertões, como expressão do universo sociocultural e existencial que forma o sertanejo. Este, “antes de tudo um forte”, torna-se, síntese da identidade do Brasil mestiço, à margem da História oficial.