O presente ensaio visa tecer uma relação entre a literatura e a psicanálise a partir da
priorização de um enfoque do amor na novela Buriti, de Guimarães Rosa. Por acreditar que o
tema paira não somente na esfera física hominal, como impregna a atmosfera natural do
sertão, verificar-se-á o tácito “corpo de baile” de uma vertente amorosa – erotismo – entre
algumas personagens literárias por abordagens teóricas de instâncias psicanalíticas, como
alteridade e pulsão.
O presente ensaio visa tecer relação entre literatura e psicanálise a partir da priorização de um enfoque do amor na novela “Buriti”, de Guimarães Rosa. Por acreditar que o tema paira não somente na esfera física hominal, como também impregna a atmosfera natural do sertão, verificar-se-á o tácito corpo de baile de uma vertente amorosa, o erotismo, entre alguns dos personagens, o que concede margem para a abordagem de instâncias psicanalíticas, a saber, alteridade e pulsões, sobretudo.
Aprimeira parte do estudo consiste em apresentar o aspecto metodológico,
que reporta aabordagem de Angel Rama de uma America Latina
como urn projeto aser delineado pelo trabalho intelectual atraves do conceito da
"transculturação", entendendo o mesmo como um processo de perdas, seleções,
redescobertas e incorpora~6es entre duas culturas que entram em contato. Asegunda
parte corresponde a aplicação metodológica em Grande sertao: veredas,
mais especificamente, no episódio do julgamento do personagem ze Bebelo
quando Riobaldo, de fato, efetua uma travessia, em que passa de jagunço a chefe,
mostrando-se, pela letra, se mostra tanto do lado tradicional do sertao quanto do
lado da modernidade proveniente consubstancialmente das urbes.
Este ensaio procura abarcar o jogo do olhar na estória “Minha gente”, de Sagarana (1946), a partir do olhar feminino de Maria Irma. Acredita-se que em suas relações interpessoais – família/negócios, amizade, amor – a personagem Maria Irma exercita uma sutil articulação de peças, para ser verossímil com um léxico forte no conto (o xadrez), que visa a seu interesse pessoal bem como familiar/social. Esse traço pode aproximar Maria Irma de algumas figuras míticas da cultura ocidental. Por astúcia sorrateira, ela demonstra uma subjetividade do gênero parcialmente distinta daquela que se costuma apreender na tradição do patriarcado, marcada por uma maior submissão da mulher. No entanto, o jogo de sedução e ludibrio que se revela nessa narrativa visa à manutenção e preservação da hegemonia masculina familiar e política de cunho patriarcal. Maria Irma representaria, na proposta defendida aqui, a tensão entre o avanço e o recuo do gênero feminino na ficção de Rosa, oscilando entre afirmar seu desejo e também garantir o status quo familiar.
Acredita-se que a polaridade do jogo de xadrez encontra-se enraizada na matéria ficcional de Guimarães Rosa sob matizes diversificados, desdobrando-se em outros jogos, como o do olhar, que delineia, por sua vez, interesses variados, relacionados ao amor, à sedução, ao erotismo, ao interesse político e ao interesse privado, sendo o jogo da linguagem aquele que alicerça a todos. A análise desse discurso ideológico priorizou dois contos de momentos enunciativos distintos (1946 e 1956, respectivamente) na produção rosiana, justamente para tentar aclarar a perspectiva enxadrística de uma maneira mais enfática em um, e mais subjacente em outro: Minha gente e Buriti. No tabuleiro destas duas estórias, o viés mítico, atado ao feminino, e o psicanalítico freudiano, em especial, aparecem, quando convocados pelo texto literário, para embasar a análise.
Pensando a literatura como um fenômeno de linguagem que não dispensa a experiência sociocultural em sua feitura, o presente trabalho se volta à última obra não-póstuma de Guimarães Rosa, que desponta por certas singularidades intrínsecas, Tutaméia, com o fim de apreender como a arcaica e tradicional sociedade patriarcal se configura no âmbito privado, a Família. Tomando o chiste enquanto procedimento formal dialético, de revelar e esconder, de desconcertar e esclarecer, de tapar e descobrir, percebe-se que a conjectura subjaz à manutenção do modelo familiar, pelo masculino, enquanto, pelo feminino, há tendência à fratura e/ou ruptura do mesmo. Por tais constatações, estrutura-se o estudo em três blocos discursivos. Ao primeiro cabe enfocar certas especificidades do corpus literário; o segundo procede em torno da crítica literária, de onde se introduz um matiz diferenciado; e, por fim, considerando todo o escrito de antes, o último incide na interpretação temática mais apurada a partir de duas estórias: Desenredo e Esses Lopes.