Tutameia - Terceiras Estórias veio a público em julho de 1967 e é o último livro publicado por João Guimarães Rosa. As narrativas mínimas que compõem o volume destoam do estilo apresentado pelo autor nas obras anteriores. Originalmente escritos para publicação na revista O Pulso, os 40 contos representam a capacidade do autor mineiro em sintetizar o fato narrado, ao mesmo tempo em que amplia a disposição significativa por meio do entredito. O espaço em que se desenrolam as narrativas é o mesmo que caracteriza o conjunto da obra rosiana, povoado por jagunços, vaqueiros, boiadas e buritis. O presente artigo versa sobre a estratégia narrativa memorialista em “– Uai, eu?”, de Guimarães Rosa, conto de Tutameia (1967). Para tanto, verifica a fortuna crítica acerca do tema proposto, destacando as considerações de Araújo (2001), Candido (2002), Coutinho (1997), Bosi (1988), Duarte (2001), Riedel (1980) e Santos (1991). Como procedimento de análise literária, recorre à observação das questões que compõem a organização narrativa do conto, de acordo com a perspectiva narratológica delineada por Gérard Genette, em Discurso da narrativa. A observação dos detalhes compositivos dessa organização textual indica uma estratégia narrativa que funciona como adjuvante na busca pelo ideal tripartido do narrador: inteligência, bondade e justiça. Conclui que a conduta reformada e testemunhal de Jimirulino, representada pela sua voz na narração, funciona como argumento em favor do depoente que, por meio dela, mostra-se incapaz de perceber as contradições de seu comportamento no tempo do crime.
Este artigo analisa o conto Um Moço Muito Branco, de Primeiras Estórias (1962), de Guimarães Rosa. Observa os elementos que compõem a passagem deste extraterrestre pelo sertão mineiro. Mais especificamente, verifica a possibilidade de transformação, trazida à tona, para aquela pequena comunidade, através do contato com este moço tão estranho. Assim, confronta os elementos observados com o conceito de unheimlich, segundo Freud, e do fantástico, segundo Todorov.
A obra de João Guimarães Rosa é povoada por variada
fauna. A caracterização singular que a assinala é resultado dos
exercícios descritivos do autor, como se verifica em Ave, palavra
(1970). De modo geral, a representação dos animais na obra rosiana
segue duas possibilidades: protagonismo e utilitarismo. Tanto num
quanto noutro, a afeição pelos animais é manifesta. A partir desse
cenário, o presente artigo objetiva observar a construção do discurso
ecológico na obra rosiana, através da atitude estratégica do narradorpersonagem
do conto "Tapiiraiauara", de Tutameia (1967). Encerra
reafirmando a intimidade e a empatia da obra com os animais.
Este trabalho dissertativo objetiva a análise das obras História de Roberto do Diabo, de Leandro Gomes de Barros, O Ermitão de Muquém, de Bernardo Guimarães, e “A hora e vez de Augusto Matraga”, de João Guimarães Rosa. Evidencia a estreita ligação entre elas, através dos elementos temáticos e formais que as compõem. Assim, num primeiro momento, dedica-se á constituição do referencial teórico e histórico, onde trata das características gerais das obras em questão e das respectivas fortunas críticas. Num segundo momento, traça a ascendência histórica de História de Roberto do Diabo. Em seguida, analisa a versão brasileira desta narrativa, folheto escrito por Leandro Gomes de Barros. Prosseguindo, o mesmo processo de análise se aplica ao primeiro romance de Bernardo Guimarães, O Ermitão de Muquém. Assim, destacados os elementos formais relevantes, é feita uma análise comparativa entre romance e a versão portuguesa da narrativa, em prosa. O mesmo processo de análise se repete com “A hora e vez de Augusto Matraga”, a fim de compará-lo com o texto de referência. Por fim, as análises comparativas apresentam os pontos de contato e distanciamento entre as obras em questão e direcionam para um diálogo entre elas. Conclui-se que, apesar das notórias evidências, não há como afirmar um parentesco direto entre elas. Contudo, noutro sentido, o nível de verossimilhança observado em cada uma delas indica uma atualização de sentidos para uma mesma linha narrativa geral, capaz de interligá-las, criando um diálogo literário que ultrapassa séculos, gêneros e estilos.
Centro de Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Letras.
A presente tese analisou a representação dos personagens estrangeiros na obra de João Guimarães Rosa. Observou os elementos narrativos que os caracterizam, configurados pelos processos de troca e assimilação cultural. “O estrangeiro em conflito com o sertanejo” verifica os casos dos estrangeiros em situação de embate com o nativo, em “Traços biográficos de Lalino Salãthiel ou A volta do marido pródigo”, “Faraó e a água do rio”, “O outro ou o outro” e “Zingarêsca”. “Trocas afetivas” trata do romance rosiano, Grande sertão: veredas. Nele, verifica como os estrangeiros participam da formação social do narrador protagonista. “Traduzindo o sertanejo” revela como a tentativa de compreensão do nativo, em “O recado do morro”, torna-se fator indispensável para a solução do enigma que o próprio recado carrega. “Nostalgia do estrangeiro” examina os contos “O cavalo que bebia cerveja”, “Um moço muito branco” e “Orientação”, a fim de observar a passagem do estranhamento à saudade que marca a enunciação. Por fim, confirmou a tese de que as personagens estrangeiras são aceitas pelo sertanejo de modo cordial. Por isso, desempenham papel ativo na composição deste sertão mundo de Guimarães Rosa. Seja como elemento que reforça as características sertanejas através do contraste ou pelas trocas materiais e imateriais que realiza com o homem do sertão.