Centro de Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Letras.
A presente dissertação tem como objetivo analisar a arquitetura de “Conversa de Bois”, oitava narrativa do livro Sagarana (1946), de João Guimarães Rosa (1908-1967). Essa narrativa apresenta-se como resultante de um conjunto de atuantes que propiciam ao narrador-erudito material para a feitura do conto. Há, pois, nesta diferentes níveis. O primeiro deles, nível extradiegético, diz respeito à feitura da narrativa. Aí se situam os narradores-autores (fictícios): o narrador erudito não-nomeado, que estrutura o conto; Manuel Timborna, narrador-oral ou rapsodo, que contou a estória ao narrador-erudito; a irara, testemunha ocular e auditiva da viagem de Agenor Soronho e Tiãozinho, que, tendo caído prisioneira de Manuel Timborna, só foi libertada mediante o relato minucioso da viagem a seu capturador. No segundo, nível diegético, ou seja, o da estória em si, estão Tiãozinho e Agenor Soronho, os oito bois do carro, a irara, João Bala e os cavaleiros. Por fim, no terceiro nível, hipodiegético, aquele no qual um personagem da diegese assume a narração de outra estória, encontram-se as outras estórias presentes em “Conversa de bois”, entre elas, a do boi Rodapião e a do boi Carinhoso. Tendo em vista a presença de tais níveis, buscamos, nesta dissertação, (1) descrever cada um deles, (2) oferecer a sua funcionalidade e (3) destacar algumas possíveis conexões entre um nível e outro. Para isso, a obra Discurso da narrativa, de Gérard Genette ofereceu-nos a teoria-base para a objetivada leitura do conto rosiano. Os resultados da pesquisa evidenciam que ao “desmontar” a narrativa em camadas nos aproximamos da compreensão do todo.
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O conceito de gênero fundamenta-se na construção social, histórica e cultural dos papéis do homem e da mulher. Esse conceito ampara-se na relação entre um e outro sexo, pois são as oposições que definem masculinidade e feminilidade. No entanto, essas oposições naturais foram hierarquizadas causando uma situação de desigualdade e opressão para a mulher. Para suprir a necessidade de revelar e discutir estereótipos femininos que representam esta situação, a Crítica Literária Feminista investiga textos literários com o objetivo de refletir sobre relações de poder que estes apresentam. Tendo em mente tal perspectiva o objetivo desse trabalho é estudar o conto ?Esses Lopes?, de João Guimarães Rosa, sob o viés das tensões que se estabelecem entre a dominação masculina e a recusa da protagonista a ser subjugada. O apoio para o entendimento dessa dinâmica vem do exame de idéias androcêntricas contidas em artigo de Rita Felix Fortes e do conceito de habitus do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002).
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A presente dissertação tem por objetivo promover um estudo comparado entre dois textos distintos. O ponto de partida deste trabalho é o conto "Sarapalha", presente no livro Sagarana (1946), de João Guimarães Rosa. Trata-se da estória de dois primos maleitosos, Ribeiro e Argemiro, que aguardam diariamente a chegada da febre. Toda a ação se desenvolve em torno de uma situação estática determinada: dois homens, sentados lado a lado, em silêncio (ou trocando palavras vazias), impregnados pela solidão e escravizados por uma rotina angustiante - situação que se desestabiliza no instante em que a dor de uma ausência é revelada. Esse retrato particular desenvolvido por Rosa aponta para uma semelhança notável com Esperando Godot (1952), texto dramático do irlandês Samuel Beckett. Obra de peso na dramaturgia do século XX, Esperando Godot trata da estória de dois mendigos, Vladimir e Estragon, que se encontram diariamente para esperar pelo sempre ausente Godot. Observa-se que a mesma dor insuperável daquelas personagens de Rosa permeia esse texto beckettiano, razão pela qual proponho a sua inserção no presente estudo. Mais do que uma situação semelhante, o parentesco detectado parece revelar uma consciência comum que justifica e move esses discursos. Resgatando experiências filosóficas distintas - como o trágico e o absurdo - este estudo procura verificar convergências e divergências entre os referidos textos. E, no decorrer da pesquisa, essa leitura cruzada deverá encontrar um mesmo sentimento, que abraça e atende a esses discursos. Enfim, a leitura que aqui se efetiva busca realimentar as considerações teóricas sobre ambos os textos, além de inseri-los dentro de uma mesma perspectiva.
Este trabalho tem por objetivo apresentar uma leitura de "Zingarêsca", último conto de Tutaméia (Terceiras Estórias) (1967), de Guimarães Rosa (1908-1967), buscando evidenciar as características do grotesco que tornam o mundo do personagem Zepaz um mundo estranhado que já não permite uma orientação - conforme teoria discutida por Wolfgang Kayser. Pretende, ainda, mostrar, amparado pela teoria de Mikhail Bakhtin sobre carnavalização, que o grotesco se faz presente na eliminação de censuras ocasionada pela festa carnavalesca dos zíngaros, originando, assim, a dissolução do que é considerado ordenado, a desconstrução do convencional. Para atingir os objetivos pretendidos, este estudo divide-se em duas partes. Em um primeiro momento, em virtude dos diálogos entre os textos da obra, há uma análise geral de Tutaméia. A seguir, "Faraó e a água do rio", "O outro ou o outro", "Intruge-se" e "Vida ensinada" são focalizados, uma vez que "Zingarêsca" retoma personagens presentes nos citados contos. Na segunda parte, os caminhos percorridos no trabalho, finalmente, cruzam-se. "Zingarêsca" é, primeiramente, analisada visando o estabelecimento de oposições entre grupos de personagens. Estabelecidas as oposições, analisa-se, a seguir, a configuração rosiana do grotesco. Configuração esta que faz de "Zingarêsca" um conto no qual ocorre o encontro de opostos.
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A presente tese analisou a representação dos personagens estrangeiros na obra de João Guimarães Rosa. Observou os elementos narrativos que os caracterizam, configurados pelos processos de troca e assimilação cultural. “O estrangeiro em conflito com o sertanejo” verifica os casos dos estrangeiros em situação de embate com o nativo, em “Traços biográficos de Lalino Salãthiel ou A volta do marido pródigo”, “Faraó e a água do rio”, “O outro ou o outro” e “Zingarêsca”. “Trocas afetivas” trata do romance rosiano, Grande sertão: veredas. Nele, verifica como os estrangeiros participam da formação social do narrador protagonista. “Traduzindo o sertanejo” revela como a tentativa de compreensão do nativo, em “O recado do morro”, torna-se fator indispensável para a solução do enigma que o próprio recado carrega. “Nostalgia do estrangeiro” examina os contos “O cavalo que bebia cerveja”, “Um moço muito branco” e “Orientação”, a fim de observar a passagem do estranhamento à saudade que marca a enunciação. Por fim, confirmou a tese de que as personagens estrangeiras são aceitas pelo sertanejo de modo cordial. Por isso, desempenham papel ativo na composição deste sertão mundo de Guimarães Rosa. Seja como elemento que reforça as características sertanejas através do contraste ou pelas trocas materiais e imateriais que realiza com o homem do sertão.
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Este trabalho objetiva a análise do conto ?A benfazeja?, de João Guimarães Rosa, publicado em Primeiras Estórias. Em sentido mais estrito, evidencia a tentativa do narrador em dissociar a feiúra da Mula-Marmela da maldade que lhe é atribuída pela pequena comunidade onde se desenvolvem os fatos. Deste modo, inicialmente, constitui referencial teórico específico acerca da feiúra, indicando a volubilidade como seu caráter essencial. A seguir, apresenta modelos históricos, artísticos e filosóficos em torno do tema. Do mesmo modo, propõe um recorte histórico que visa compreender com quais elementos a feiúra, que é desarmônica, imperfeita e repugnante, se torna um atrativo para a Arte e nela se realiza. Noutro momento, o trabalho se dedica à observação do feio na obra de Guimarães Rosa, inventariando suas ocorrências, desde Sagarana até Tutaméia, e ratificando a importância deste elemento para a completude das narrativas do escritor mineiro. Por fim, analisa o conto em questão, demonstrando um processo pelo qual se intenta provar que a existência da Marmela foi indispensável para a harmonia daquela comunidade, ratificando que, em sentido mais amplo, as coisas mais feias, aparentemente desprezíveis, possuem grande valor para o conjunto em que se inserem.
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Tutaméia (Terceiras Estórias), de João Guimarães Rosa, é uma obra que desestrutura o leitor. Os elementos que a tornam labiríntica são múltiplos: dois índices, dois títulos, ordenação alfabética dos contos, anagramas, epígrafes, glossário, quatro prefácios, ilustrações de capa e ilustrações ao final de cada estória. A tese que se propõe defender nesta pesquisa dá conta de decifrar parte de um de seus enigmas. Curiosamente, o livro possui quatro prefácios distribuídos de entremeio aos contos. A nosso ver, desempenhando função específica planejada pelo ficcionista, tais textos estariam a serviço de “prefaciar” os correspondentes contos que antecipam. Através da análise dos onze contos que seguem o terceiro prefácio, “Nós, os temulentos”, o presente estudo objetiva evidenciar esta intenção do escritor. Em “Nós, os temulentos”, Guimarães Rosa explora, pela via do humor, a visão “diplópica” de “Chico, o herói”, propiciada pela embriaguez. Por meio da imagem deste temulento e de seus dualismos, o autor parece oferecer a chave temática do grupo de estórias que segue o referido prefácio. Acreditamos que a grande constante ou a coluna dorsal de tais contos é o tema do duplo. O primeiro passo a ser dado para provar esta tese inicia já na introdução do trabalho. Nesta parte, são detalhados os pormenores da peculiar estrutura de Tutaméia (Terceiras Estórias) e tecidas algumas considerações acerca dos quatro prefácios que a compõem. Em seguida, conforme antecipa o título do primeiro capítulo, é realizado “um périplo pelo território do duplo”, assunto de abrangência bastante considerável. Por último, são realizadas as análises dos contos “O outro ou o outro”, “Orientação”, “Os três homens e o boi dos três homens que inventaram um boi”, “Palhaço da boca verde”, “Presepe”, “Quadrinho de estória”, “Rebimba, o bom”, “Retrato de cavalo”, “Ripuária”, “Se eu seria personagem” e “Sinhá secada”.
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A presente dissertação tem por objetivo demonstrar a presença de elementos marcadamente trágicos no conto "A hora e vez de Augusto Matraga", de Guimarães Rosa. Este estudo apresenta uma estrutura bipartida. Num primeiro momento, são desenvolvidos os seguintes tópicos teóricos: "A origem da tragédia grega" e "Formas de abordagem da tragédia grega". No primeiro tópico, a tragédia é tratada em sua gênese, ou seja, desde os primórdios de sua manifestação até atingir a sua forma acabada de espetáculo oficialmente instituído, patrocinado e organizado pelo antigo estado grego. No segundo tópico, são apresentadas duas abordagens divergentes acerca da tragédia grega. A primeira delas refere-se à leitura inicialmente desenvolvida por Aristóteles, em sua obra intitulada Poética, e amplamente aprofundada por estudiosos posteriores. A segunda diz respeito à análise realizada por Nietzsche, vinte e dois séculos depois, em seu livro O nascimento da tragédia. Embora haja divergência na maneira como interpretam a tragédia clássica, a análise do conto está baseada em apontamentos de ambas reflexões. Num segundo momento, em virtude da estrutura ternária de "A hora e vez de Augusto Matraga", optou-se pela divisão da análise em três partes. Na primeira parte, revela-se a presença do trágico através dos seguintes elementos: hybris (desmedida), harmatía (erro trágico) e peripetéia (inversão da situação do personagem). Na segunda parte, o trágico manifesta-se através da "contradição inconciliável" e do dionisismo. Na última parte, constatam-se os vínculos do conto com a tragédia grega nas situações em que se apresentam os seguintes elementos: destino, anagnórisis (reconhecimento), sparagmós (catástrofe) e dionisismo.
O presente trabalho tem por objetivo geral efetuar leitura analítica de sete contos de João Guimarães Rosa, presentes em sua última obra publicada em vida: Tutaméia -- terceiras estórias. Dentre as quarenta "estórias" do livro, elegeram-se as seguintes: "Antiperipléia", "Curtamão", "Êsses Lopes", "Rebimba, o bom", "Se eu seria personagem", "Tapiiraiauara" e "- Uai, eu", que possuem em comum, além da estrutura concisa, a presença de narradores autodiegéticos. Esta categoria, criada por Gérard Genette, diz respeito ao tipo de narrador que participou da história que conta, como protagonista. Para dar conta do artefato teórico foi escolhido como principal obra de apoio O discurso da narrativa, de autoria de Genette. O trabalho visa contribuir com os estudos acerca da obra contística de Guimarães Rosa, com destaque para a figura do narrador.
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O presente estudo aborda a ficcionalidade da narrativa em primeira pessoa. O ponto de partida para a reflexão empreendida aqui é a teoria elaborada por Hamburger, para quem a primeira pessoa seria fingimento, e não ficção. Refletindo sobre tal teoria, adota-se aqui o conceito de ficção elaborado por Iser, mas com atenção também para outros teóricos. A ficção é vista como uma espécie de jogo, em que cada obra cria suas regras de acordo com a intencionalidade do autor e as possibilidades de recepção, pelo leitor. A narrativa em primeira pessoa, pelas especificidades técnicas que desenvolveu, sobretudo a partir do início do século XX, aparece como uma intensificação daqueles elementos que desvelam a natureza fictícia da obra. Aborda-se, assim, o foco narrativo e o tempo como sendo, dentre esses elementos, aqueles que exibem com maior intensidade essa natureza. Após uma visão sobre as teorias acerca da ficção, aborda-se a transformação operada nesse foco em direção a formas que se evidenciam como ficcionais. A análise de três obras representativas da moderna literatura brasileira especifica modos diversos de o ficcional revelar-se.
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Nosso trabalho trata da análise de alguns contos da obra Tutaméia (Terceiras Estórias) de João Guimarães Rosa, com vistas à figura do narratário. Para tanto, procuramos mostrar a importância desta categoria da narrativa que pouca atenção recebeu até hoje por parte da crítica literária e que, fazendo-se presente de forma, às vezes mais, às vezes menos, explícita, no texto, interfere significativamente na construção do discurso do narrador. A relação de comunicação entre narrador e narratário situa-se no nível do enunciado do texto. Assim, buscamos também reconstruir uma outra relação de comunicação que se situa no nível da enunciação, que é a de enunciador e enunciatário, mostrando sempre o papel ativo que se reserva a este último, o qual se constitui num co-autor do texto. Nossa pesquisa discute ainda como, na obra em questão, o diálogo entre narrador e narratário pode conduzir o leitor ao nível da enunciação, onde é possível entrever questões relativas ao próprio ato de narrar, bem como sobre o processo de criação da ficção narrativa e, em alguns contos, da criação artística de modo mais geral. São seis os contos selecionados para análise, tendo como critério de escolha a presença do narratário mencionada no discurso do narrador: “Antiperipléia”, “- Uai, eu?”, “Curtamão”, “Desenredo”, “Se eu seria personagem” e “Reminisção”. Para o desenvolvimento deste trabalho, o referencial teórico principal é a terminologia de Gerard Genette sobre a narrativa, de Gerald Prince sobre o narratário e o conceito de dialogismo de Mikhail Bakhtin, sendo que este último nos auxilia na análise da relação de comunicação entre enunciador e enunciatário.