A partir da leitura de Corpo de baile, de João Guimarães Rosa, pretende-se discutir relações entre literatura e dança nos desdobramentos estéticos do texto rosiano. Para isso, apresenta-se um panorama sobre história e formação de “corpo de baile” em dança (BOURCIER, 2001) e sugere-se uma abordagem sobre a percepção de um “corpo de baile”, especialmente nas novelas Campo geral, Uma estória de amor, A estória de Lélio e Lina e Buriti. Parte-se da concepção de que a dança é um dos elementos dinamizadores dos enredos de Corpo de baile, além de ser um traço importante na representação de personagens, sobretudo na esfera feminina. Este artigo, por meio de uma análise comparativa, apresenta contribuições para o enfoque interartes nos estudos da obra rosiana.
“Uma estória de amor (Festa de Manuelzão)” é uma das de sete novelas constituintes da obra Corpo de Baile, de João Guimarães Rosa, publicadas, pela primeira vez, em 1956. A novela ambienta-se no espaço rural de Minas Gerais e desenvolve-se a partir do mote da festa de Manuelzão, entre travessias de vaqueiros e de boiadas. O enredo é marcado pela oralidade, por costumes, pensamentos, comportamentos e por diferentes ritmos característicos do Brasil rural. É a partir da multiplicidade de elementos nessa narrativa, que proponho um estudo comparativo entre literatura e dança. Para isso, intenciono analisar a representatividade da festa como um traço mítico-memorativo e a presença de bailados populares como práticas sociais. Além disso, são consideradas perspectivas literárias, a partir da fortuna crítica de Guimarães Rosa, e noções de cultura popular e de tradição. O cruzamento dessas perspectivas possibilita o desenvolvimento do estudo interartes, proposto neste trabalho, visando a percorrer travessias entre dança e literatura na narrativa de Guimarães Rosa.