Este trabalho tem o objetivo de apresentar o conto “A Terceira Margem do Rio” à luz da poética moderna. Para isso, é proposta uma pequena revisão da fortuna crítica da obra a fim de mostrar as suas limitações e a pertinência do caráter moderno nessa narrativa. A intenção é demonstrar o lugar de indeterminação da obra em que se apresenta um aspecto e seu contrário, impedindo qualquer fixação normativa de sentindo.
O artigo apresenta um diálogo entre as especulações mítico-religiosas de Riobaldo, o herói de Grande Sertão: Veredas, obra maior do escrito mineiro João Guimarães Rosa, e as considerações teológico-filosóficas de Tomás de Aquino acerca da questão do mal.
Partindo de elementos orientais e budistas presentes na obra João Guimarães Rosa e de indicações sobre o tema na própria fortuna crítica do autor mineiro, este estudo busca analisar de que maneira referências budistas são utilizadas no conto “Minha gente”, de Sagarana. A investigação desse tópico no texto — uma citação atribuída ao Buda sobre uma técnica de meditação e seus efeitos — é feita considerando o que Francis Utéza explicita sobre a composição de elementos metafísico-religiosos em textos do autor mineiro, na forma como eles coexistem com elementos regionalistas. Além disso, busca-se demonstrar a função que esse dado budista possui na narrativa.
Tremem triângulos nas tramas; João Guimarães Rosa, suas fontes, seus estilos, seus leitores; meu ensaio três vezes recortado. No escritor mineiro, segundo a tradição crítica, tudo é e não é; esse ponto crucial do autor cruza com a noção crucial de Trindade, de modo que se pode notar a dor, o sofrimento e a agonia da influência; no meio do redemoinho. Por isso este trabalho se volta, principalmente, para a avaliação das formas pelas quais Rosa internaliza o procedimento trino-unitário tanto em sua poética geral, quanto em Corpo de Baile e em "Buriti".
Este estudo visa à compreensão de “Buriti”, novela de João Guimarães Rosa (1908-1967), a qual integra o volume Corpo de baile (1956), numa perspectiva dialógica, que privilegia a relação entre a obra literária e o leitor, bem como as suas implicações sobre a história recepcional. Dessa forma, a investigação empreendida neste artigo indicia as orientações teórico-metodológicas da crítica, para, com isso, referir as disparidades entre os diversos horizontes interpretativos da trama em pauta, os quais, sob os mais variados aspectos, renovam os estudos rosianos.
Este texto propõe uma discussão acerca da construção do relato ficcional do vaqueiro Grivo, personagem viajante da novela “Cara-de-Bronze”. Busca-se analisar o processo de elaboração estética no entrelaçar da dupla viagem, a que ocorre no plano físico e simbólico, e os artifícios do exímio narrador-vaqueiro na inverossímil busca do “quem das coisas”. Em Corpo de baile (1956), cada novela evidencia uma situação em que a viagem constitui um recurso primordial para se explorar as potencialidades da travessia no imaginário sertanejo. Com a novela “Cara-de-Bronze”, o ato de viajar e o viajante fundem-se com a própria busca da poesia e do fazer poético. Nesta perspectiva, a travessia é ponte para a linguagem, é o sentido que se produz entre a palavra e o vazio nesse movimento em que o texto se coloca. A viagem de Grivo aponta para um percurso não convencional legitimado pela contingência simbólica da palavra.
O artigo discute a representação literária do processo de modernização no Brasil de meados do século XX no último livro publicado por Guimarães Rosa (Tutaméia, 1967).
Meu primeiro contato com Clara Rowland aconteceu quando, em 2014, pleiteava eu uma bolsa de doutorado sanduíche na Universidade de Lisboa e, como a pretendia como tutora/co-orientadora,
apresentava-lhe um projeto de investigação sobre a escrita da violência em Rosa e que tentava unir este a Derrida, a bolsa não vingou, mas o contato e o projeto, estes, sim. Na entrevista que se segue, conversamos sobre a recepção, ou (não)recepção da literatura de Rosa e da literatura brasileira em Portugal, mas, principalmente, sobre um modo diverso de se ler e receber o texto rosiano. Deixemos, pois, falar o diálogo.