O presente artigo apresenta a relação entre o daimonismo e o espiritismo franco-brasileiro presente no discurso narrativo do romance Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, discutindo aspectos específicos da definição oferecida pelo antropólogo Clifford Geertz para o que seja religião e como suas asserções se projetam no páthos da personagem Riobaldo. A partir dos dados culturais que vinculam a doutrina espírita e a conceituação em torno do daimon grego, o estudo expõe uma exegese para um ponto central da narrativa rosiana, o pacto de Riobaldo com o diabo, com base num recorte da definição geertziana de religião.
O presente trabalho pretende estabelecer um estudo que relaciona a Crítica Genética e a Estética da Recepção num primeiro momento, projetando o seu resultado sobre a escrita de Magma, livro de poemas de João Guimarães Rosa, numa perspectiva intertextual com William Shakespeare, configurando uma contribuição aos estudos que referendam esta obra de Rosa como um preâmbulo da poética maior do escritor brasileiro.
A presente tese objetiva apresentar, numa perspectiva epist emológica e ficcional, a relação entre a Bíblia e a Literatura. Dividido em duas partes, este estudo contempla primeiramente uma abordagem em torno da crítica literária que tem se debruçado sobr e a relação entre o texto biblista e o universo dos estudos literários. Do conjunto de estudiosos que se dedicaram a estudá-la, pinçamos dois importantes nomes da crítica literária internacional no século XX que se detiveram sobre esta interação em perspectiva que se pode dizer complementar e rizomática, conforme os postulados da epistemologia proposta por Gilles Deleuze e Félix Guattari. São eles o canadense Northrop Frye e o norte-americano Harold Bloom. De ambos, Harold Bloom é o que mais intensamente estabeleceu o diálogo entre o livro judaico -cristão e a Literatura. A partir das instigantes ilações destes teóricos, abrimo s para um segundo momento que estabelece a relação entre o pensamento desses estudiosos, com ênfase em Bloom, e a ficcionalidade lusófona de três recortes romanescos: A mulher que escreveu a Bíblia, de Moacyr Scliar; Caim, de José Saramago e Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa. Estas obras são analisadas em diálogos intertextuais com outras representações literárias nacionais e internacionais que contemplam a relação entre a Bíblia e a Literatura numa abordagem de hipertextualidade da conceituação de Gérard Genette, que por sua vez dialoga com as considerações de Linda Hutcheon alusivas aos estudos sobre a paródia. Como metodologia, servimo -nos da pesquisa bibliográfica relativa ao objeto de pesquisa pertinente à tese. Como resultado de nossa pesquisa, chegamos à conclusão de que há uma farta cartografia, de que este trabalho constitui um exemplo, que referenda a existência do rizoma bíblico-literário, o que conduz à proposição de que a Bíblia, um dos mais importantes códigos artísticos da cultura Ocidental, é uma obra que pode ser vista como uma peça literária, como advoga Harold Bloom, sem prejuízo algum do rizoma que a vincula à religiosidade, funcionando como um dos mais instigantes hipotextos da Literatura no Ocidente, passível de ser também pesquisado em um nível de alta erudição em sua hipertextualidade.