A presente pesquisa propõe uma leitura da novela A hora e a vez de Augusto Matraga de João Guimarães Rosa, publicado em Sagarana em 1946. Adotaremos como procedimento de estudo a análise da relação estabelecida entre o medo e a coragem ao longo da narrativa e as relações sociais representadas por esta série. O objetivo deste artigo é mostrar que o medo move a narrativa ao passo que os personagens, em especial Nhô Augusto, se veem aniquilados por este sentimento, mas ao mesmo tempo é dele que ganham forças para prosseguir. A partir da compreensão dessa concepção, nos empenharemos por desenvolver uma discussão sobre como a categoria do medo pode denotar determinadas relações sociais, não só de modo isolado, mas também vinculado à coragem e ao poder. Para tanto, utilizaremos como suporte teórico História do medo no ocidente de Jean Delumeau (2009) e A criação literária de Massaud Moisés (2012).
Nesta pesquisa, procuramos analisar a representação estética do medo em narrativas
de João Guimarães Rosa. Para tanto, o presente estudo se divide em duas partes: a
primeira corresponde ao exame do medo que invade o universo infantil em “Campo
Geral” e finda com o personagem já adulto em “Buriti”; já a segunda, compreende a
análise de como o medo se apresenta em meio ao universo do indivíduo idoso em duas
distintas estórias “A benfazeja” e “Os chapéus transeuntes”. Assim sendo, temos como
objetivo analisar o medo sentido ou provocado pelos personagens em meio aos
caminhos tortuosos por eles percorridos nestas estórias, na perspectiva de
compreender como o medo se firma em cada narrativa e se articula com seguimentos
culturais, históricos e sociais nelas impressas estruturalmente. Buscaremos entender,
também, como o medo se configura na linguagem literária, admitindo funções de
caráter místico, religioso e filosófico sobre os personagens, por vezes modificando o
modo como pensam, têm consciência de si e das circunstâncias em que vivem. Para o
estudo específico sobre o medo adotaremos como suporte teórico Delumeau (2009) em
História do medo no ocidente; Myra y López (2012) em Quatro gigantes da alma: medo,
ira, amor, dever; e Michel de Montaigne (2010) em “Sobre o medo”.