O artigo analisa Campo geral, primeira das sete novelas que compõem Corpo de baile (1956), de João Guimarães Rosa, sob a perspectiva da Ecocrítica, ramo dos Estudos Literários que se ocupa das relações entre literatura e meio ambiente. Buscando entender de que forma a natureza é representada na obra e como o texto nos leva a refletir sobre os valores em jogo no enredo, especificamente a relação entre natureza, saberes tradicionais e religiosidade – questões propostas pela Ecocrítica –, a análise vai sendo tecida. Observa-se, para tanto, a reorganização que o protagonista faz da realidade cultural: sua tentativa de integrar cultura e natureza reflete a recusa em viver uma vida pautada numa forma de subsistência baseada na brutalidade do mundo adulto.
Setor de Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Letras
O tema central da dissertação é a digressão geográfica em Grande Sertão: Veredas (1956) de João Guimarães Rosa (1908-1967), que se instaura na narrativa por meio das características do sertão e transforma-se em elemento que ativa a memória do narrador. A dissertação tem como objetivo analisar a função das digressões geográficas, exemplificando e explicando de que forma contribuem para a estruturação do sentido e da conformação estética do romance. As digressões são avaliadas a partir de duas hipóteses: a primeira as investiga como figuração subjetiva e afetiva do narrador e sua conexão com as memórias relacionadas às relações amorosas, especialmente com Diadorim. Sob a segunda hipótese, confronta-se a figuração do espaço físico como subjetivação, considerando-se a presença do espaço físico telúrico, sua paisagem humana e natural. As digressões são constituídas na obra por meio da interação de tipos variados de memória que influenciam diretamente na sua constituição estilística e associam-se a diferentes gêneros literários e discursivos. As análises estão amparadas pela relevância da tradição oral no romance e do emprego das técnicas da tradição oral, assim como pela interação dos gêneros discursivos primário e secundário. Nesse contexto, a metodologia para identificar as digressões foi elaborada a partir do estudo de digressões na Retórica Antiga e de técnicas de performance de cantadores e contadores tradicionais; as análises estão embasadas em teorias conversacionais e análise do discurso.
O presente artigo tem como objetivo analisar a paisagem sonora do conto A Velha
(1967) de João Guimarães Rosa, um dos três “contos alemães” de Ave, Palavra que fazem
alusão ao contexto biográfico do autor, especificamente no período em que ele exercia a função
de diplomata em Hamburgo durante o regime nazista a serviço do Estado Novo. O elemento
autobiográfico, ainda que não se constitua como a principal dimensão do significado do conto,
se relaciona ao aspecto emocional do autor, que o transmuta em técnica composicional
identificada nas cadeias sonoras do conto. Investiga-se, no artigo, de que forma os sons
conectam a linguagem à materialidade ao nosso redor e às estruturas sociais em derredor. A
técnica da valorização sonora permite que o leitor recrie os aspectos prosódicos e emocionais do
narrador-personagem, recompondo as sensações daquele período histórico no imaginário,
fazendo com que o conteúdo ecoe no corpo do leitor. A perspectiva teórica adotada para a
análise baseia-se nas teorias de Hans Ulrich Gumbrecht (2010; 2014) e, em estudos sobre
prosódia.