A música na obra de João Guimarães Rosa assume os mais diversos sentidos. Música ligada à memória e ao esquecimento, como aparece no Grande sertão: veredas; música oracular de Laudelim (Recado do Morro /Corpo de Baile) e de Siruiz (Grande sertão: veredas); como redenção para o corpo e para o espírito que cura Miguilim de sua tristeza e Cara-de-Bronze de sua solidão (Corpo de Baile); música como forma de linguagem em seu mais alto grau de abstração na expressão não do particular, do fenômeno, mas de sua quintessência (“O que a música diz é a impossibilidade de haver mundo, coisas”, diz o narrador de O Palhaço da Boca Verde/Tutaméia); entorpecimento e lucidez, a cantiga amalucada das mãe e filha de Sorôco (Primeiras estórias) inaugura um novo modo de sentir, mais generoso e fraterno. Este artigo versa sobre os resultados de uma pesquisa desenvolvida na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação (no mestrado e doutorado) da Professora Olga de Sá nas áreas de Semiótica e de Literatura acerca das situações envolvendo música na obra do escritor mineiro João Guimarães Rosa.
A partir das ideias de Oswald de Andrade sobre antropofagia (Manifesto Antropófago, 1928), que rivalizando com o bom selvagem de Rousseau revitaliza a noção do canibal insubmisso, irreverente e zombeteiro, se inaugura na tradição brasileira artística e acadêmica a noção de devoração do outro como metáfora epistemológica da tradução entre culturas. Tradução antropofágica ou antropofagia tradutória como encontro, experiência de alteridade, mas também como devoração criativa – algumas vezes debochada – mas, sobretudo, como transculturação. Experimentos lingüísticos, literários e ensaios de cunho teórico fazem eco a estas ideias. Este artigo debruça-se sobre o pensamento do escritor João Guimarães Rosa, do filósofo e ensaísta tcheco Vilém Flusser e do poeta e tradutor Haroldo de Campos, sublinhando as suas intercessões e também as suas singularidades, a respeito da linguagem e dos processos tradutores.
Este artigo propõe-se a discorrer sobre as relações entre as atividades de médico e escritor exercidas por Guimarães Rosa de modo a sublinhar o processo de cura pela palavra. Palavra que, quando na forma de canto, assume uma potencialidade apotropaica. Neste sentido, nos debruçaremos sobre um episódio de Campo geral, mais pre- cisamente sobre o efeito de cura que a viola e cantoria de Aristeu operam no estado de espírito de Miguilim. Por compor Corpo de baile, interessa-nos, na investigação deste conto, uma apreciação do pensamento de Platão sobre os estados da alma e a alegria.
Na obra do autor mineiro João Guimarães Rosa, o significante é elevado ao máximo de seu uso. Há
uma espécie de magia, canto e encanto na sua escritura. O que propomos, neste artigo, é um estudo do conto “A menina de lá”, que integra a obra Primeiras Estórias (1962), com a intenção de mostrar a predominância do caráter icônico e poético na linguagem do conto. Para tanto, nos valemos do conceito de linguagem icônica de Charles Sanders Peirce e do de função poética do lingüista russo Roman Jakobson, além das idéias de Vilém Flusser sobre as chamadas línguas santas.