A novela “Uma estória de amor”, de Guimarães Rosa, pode ser interpretada como uma consideração filosófica sobre a existência e sua finitude, e sobre os trabalhos do amor, se comparada com O Banquete, de Platão, e sua teoria da natureza e qualidade de Eros. Vários críticos atestam as leituras de Platão por Rosa, e uma abordagem comparativa entre os dois textos revela o reflexo das ideias platônicas ficcionalizado ao longo da festa de Manuelzão, concorrendo para produzir um comovente relato da complexidade e contradições do amor entre o povo simples do sertão.
Análise do conto “Fatalidade”, de Primeiras Estórias, centrada nas referências implícitas e explícitas à cultura grega, desde intertextos com Homero até a reverberação de passagens dos diálogos platônicos. A recepção do universo clássico no conto trabalha com o topos da determinação humana e divina sobre o destino e vale-se da dicotomia entre a ordem física (physis) e o estabelecimento das leis (nomoi).
Última narrativa de uma sequência de sete novelas de Corpo de Baile, “Buriti”
encerra o ciclo rosiano, resgatando no protagonista Miguel o menino Miguilim, de “Campo
Geral”. O que motivaria Guimarães Rosa a empreender a travessia das sete narrativas,
quando decide abrir e fechar o conjunto Corpo de Baile com o mesmo herói? Na tentativa de
responder ao mistério da personagem principal, o presente trabalho detecta na ocorrência do
léxico erro em ambas as histórias um índice hermenêutico: se, quando criança, Miguilim omite
o bilhete do Tio à Mãe; adulto, Miguel se cala ao conhecer Maria da Glória, como salienta Luiz
Costa Lima: “A fala que se trocam é a fala das reticências, da palavra pouco explicitada”.
Segundo a tradição hesiódica, o deus Eros “doma no peito o espírito e a prudente vontade”.
Solidária à angústia amorosa, outra personagem feminina é convocada - Leandra. Sob o
patrocínio da virilidade na etimologia do nome, a estrangeira acusará a obsolescência de um
patriarcado que exige fertilização. Será Diotima, a sacerdotisa que legou a Sócrates a função
e o sentido de Eros, quem mais se fará presente nas reflexões de Leandra. Na medida em
que atualiza o diálogo platônico, O Banquete, Guimarães Rosa reverte o erro de MiguilimMiguel:de
uma inicial hýbris à cara noção de eudaimonia. Porém, mais do que desfazer um
conflito outrora trágico, o autor esboça em “Buriti” uma teoria da vontade humana solidária à
divindade que preside o desejo erótico.
Este artigo propõe-se a discorrer sobre as relações entre as atividades de médico e escritor exercidas por Guimarães Rosa de modo a sublinhar o processo de cura pela palavra. Palavra que, quando na forma de canto, assume uma potencialidade apotropaica. Neste sentido, nos debruçaremos sobre um episódio de Campo geral, mais pre- cisamente sobre o efeito de cura que a viola e cantoria de Aristeu operam no estado de espírito de Miguilim. Por compor Corpo de baile, interessa-nos, na investigação deste conto, uma apreciação do pensamento de Platão sobre os estados da alma e a alegria.