Este trabalho analisa os contos "A menina de lá" e "Um moço muito branco" de João Guimarães Rosa e objetiva demonstrar o diálogo que o enunciador rosiano estabelece com o discurso mítico, perceptível na estrutura dos dois contos. Para isso nos valemos das relações que Calame (1986) estabelece entre o discurso mítico e cada um dos diferentes níveis do percurso gerativo de sentido da semiótica francesa.
Ignacio Assis Silva, em sua obra Figurativização e Metamorfose: o mito de Narciso (1995), reflete sobre a relação entre o mito de Narciso e a construção do sujeito em Jacques Lacan. Segundo o autor, Freud e Lacan leem o Narciso ovidiano não como lenda, tal qual o liam os gregos e os romanos, mas como mito: como figurativização da antropogênese do sujeito. Com base nas observações de Silva, estabelecemos uma leitura semiótica para o conto "O espelho" de João Guimarães Rosa, objetivando analisar como o enunciador constrói de forma mitopoética o ator protagonista do texto, lendo-o também como figurativização da antropogênese do sujeito em sua relação com o outro.
O estudo do “ciúme”, paixão que se manifesta no conto “Sarapalha”, de João Guimarães Rosa, é objeto de análise deste trabalho. Os pressupostos teóricos são os da semiótica francesa. Objetiva-se descrever a dimensão sintática do ciúme, que revela a intensidade do sofrimento dos sujeitos afetados pela paixão – Primo Ribeiro e Primo Argemiro – em relação à perda do objeto-sujeito amado, Prima Luíza, para um rival comum. Busca-se descrever também o esquema passional canônico do ciúme na cena enunciativa, que capta o momento da revelação de Argemiro a Ribeiro a respeito do amor platônico que nutrira por Luíza. Ribeiro, ciumento caracterizado pelo apego exclusivo, assume o papel do observador avaliador social e não perdoa Argemiro, apesar de o papel de rival, que ele atribui ao primo, ser uma construção de seu imaginário.
Este trabalho analisa o conto “Duelo”, de João Guimarães Rosa, e utiliza como referencial teórico a Semiótica Francesa com base nos estudos de A.J. Greimas e J. Courtés (s/d) em seu Dicionário de Semiótica, de Denis Bertrand (2003), em Caminhos da Semiótica Literária, e de Patrizia Lombardo (2005), que, no Dictionnaire des Passions Littéraires, dedica um verbete ao estudo da vingança. O objetivo é descrever a construção da significação do conto, focalizando aspectos de sua dimensão pragmática, figurativa, passional e enunciativa. Descrevemos as transformações de estado por que passam os atores e, em seu percurso passional, os seus estados de alma, observando as paixões que os movem. Nesse sentido, observamos que a paixão vingança se manifesta no conto, criando efeitos de sentido diversos.
Este artigo tem por objetivo discutir determinadas alterações empreendidas em cenas de Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa, no processo de adaptação dessa obra para o texto fílmico Outras estórias, de Pedro Bial. Para tanto, discute-se a natureza da mudança de suporte, na esteira dos estudos de base greimasiana, observando certas construções de sentido que se recriam nesse processo de transcodificação. Utiliza-se, desse modo, a noção de adaptação enquanto forma de tradução/transcodificação, isto é, uma interpretação que se realiza como enunciado segundo que deve manter certa equivalência em relação ao enunciado primeiro. O texto aponta também para as noções de recursividade e desdobramento, formas de uma tipologia textual que podem dar conta das alterações da expressão na passagem do texto verbal rosiano ao audiovisual de Pedro Bial. Por fim, pretende-se ainda apontar certos encadeamentos figurativos e temáticos que se organizam nos dois textos e que permitem a percepção da supressão do estado de aparente loucura de Liojorge no filme, o qual é enunciado no texto verbal, e, por sua vez, a reiteração do estado de coragem do ator, já presente no texto rosiano, em cenas do texto fílmico.
Este texto analisa, com base nos pressupostos teórico-metodológicos da semiótica tensiva, o conto “Pirlimpsiquice”, de João Guimarães Rosa, com o objetivo de verificar o modo como o conceito de acontecimento, estabelecido por Claude Zilberberg, manifesta-se no texto tanto no nível da enunciação quanto no nível do enunciado. Nosso objetivo é observar o modo como se dá fusão do uno e do múltiplo no texto por meio da análise da forma como o narrador, no presente, rememora um acontecimento passado vivenciado por ele quando ainda menino juntamente com seus colegas de internato. Nessa história, o menino e seus colegas, após deslizar para o imaginário, para a fantasia, acontecimento que se dá com a encenação de uma peça no colégio interno, retorna para a sua rotina. Tal trama do texto enunciado constitui-se, por sua vez, como um outro acontecimento, o acontecimento mitopoético que é o próprio conto, relatado no presente da enunciação pelo narrador.