O presente trabalho tem por objetivo apresentar um breve resultado da fundamentação e aplicação da categoria, de cunho ontofenomenológica, intitulada “apreensão-dos-afetos”, a qual teve sua origem a partir da leitura de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa (2015). Para tanto, concentraremos nossa atenção em um momento específico do romance, o qual se refere à travessia primeira de Riobaldo, tendo no Menino-Diadorim o ponto de iniciação de sua jornada. A categoria em questão teve sua fundamentação teórica, principalmente, pautada nos estudos ontológicos de Sartre (2002), porém, neste trabalho em especial, teremos os ensaios de Benedito Nunes (1992, 2013a) como guia, de vez que o filósofo representa um dos principais elos entre teoria filosófica e interpretação literária. A apreensão-dos-afetos revela-se a partir dos vestígios linguísticos que Riobaldo deixa durante o ato de narrar os afetos apreendidos quando menino, registrados a partir dos acontecimentos do início de sua travessia ao demonstrar suas impressões, percepções, reflexões sofridas/realizadas e o modo como comportou-se diante do menino-Diadorim. Travaremos o diálogo com Benedito Nunes sobre três perspectivas: a busca de Riobaldo pela Unidade primeira; um norte para a fundamentação da categoria; a aplicação da categoria ao romance, tendo como guia a interpretação de Benedito Nunes (2013a).
Este artigo percorre o modo como o filósofo e crítico literário Benedito Nunes pensa a relação entre filosofia e literatura em Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Observamos que Nunes reflete sobre essa relação tendo como ponto de convergência o fenômeno da linguagem. Por meio de evidências retiradas da obra, Rosa (2006) usa a linguagem narrativa para pensar questões como o Ser, o Mundo, o Ser-no-Mundo, a Travessia, o Diálogo, a Verdade. Logo, o romance converte-se em uma reflexão sobre o sentido da existência e o lugar do homem no mundo.