Este artigo percorre o modo como o filósofo e crítico literário Benedito Nunes pensa a relação entre filosofia e literatura em Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Observamos que Nunes reflete sobre essa relação tendo como ponto de convergência o fenômeno da linguagem. Por meio de evidências retiradas da obra, Rosa (2006) usa a linguagem narrativa para pensar questões como o Ser, o Mundo, o Ser-no-Mundo, a Travessia, o Diálogo, a Verdade. Logo, o romance converte-se em uma reflexão sobre o sentido da existência e o lugar do homem no mundo.
Este ensaio pretende analisar o livro Primeiras estórias (1962), de Guimarães Rosa, e sua transposição para o filme Outras estórias (1999), dirigido por Pedro Bial, com adaptação de Alcione Araújo. Tomaremos como foco central do trabalho a noção de comum. Buscaremos verificar como este conceito, tratado por pensadores contemporâneos, aparece nas obras analisadas. O ensaio almeja investigar aspectos da linguagem literária e fílmica e avaliar a relação das personagens com a vida comunitária. Podemos perceber, no livro e no filme, imagens relativas a outras formas de espacialidade e temporalidade, distantes dos modelos predominantes na modernidade ocidental. Ideias sobre compartilhamento, comunidade, comunicação e cooperação surgem da análise dos textos. Mas o trabalho também mostrará o conceito de comum como a dificuldade de se empreender experiências comunitárias, tentando abrir o leque de interpretações sobre a questão. O livro e o filme trazem as ideias do diálogo e do perdão como pontos importantes, sugerindo novas formas de vida social.