O presente trabalho reflete sobre a questão da literariedade a partir da mística do pacto com o diabo existente na obra de João Guimarães Rosa, tendo em mente que toda grande obra de arte, quando se permite que ela se manifeste naquilo que ela é – sua poiésis –, inaugura mundo e instaura a verdade. Para tanto, discorremos sobre algumas questões primordiais ao exercício de escuta crítica: a relação intérprete–texto literário; o questionar pela linguagem narrativa; e a relação homem–real, pensadas no vigor da dialética.
Este artigo percorre o modo como o filósofo e crítico literário Benedito Nunes pensa a relação entre filosofia e literatura em Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Observamos que Nunes reflete sobre essa relação tendo como ponto de convergência o fenômeno da linguagem. Por meio de evidências retiradas da obra, Rosa (2006) usa a linguagem narrativa para pensar questões como o Ser, o Mundo, o Ser-no-Mundo, a Travessia, o Diálogo, a Verdade. Logo, o romance converte-se em uma reflexão sobre o sentido da existência e o lugar do homem no mundo.
Este ensaio propõe um exercício crítico a partir da escuta das questões que se manifestam em Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa. Para tanto, reflito sobre o que vem a ser o exercício de escuta crítica originária, pensando em escuta como o se deixar invadir pelo real acontecendo,
e como podemos fazer uma leitura crítica poética, por meio do diálogo com a obra literária, que prevê o pensar como o deixar-se tomar pela linguagem, como logos.
O presente ensaio, prevendo a relação entre literatura e filosofia, trata da questão do pacto em Grande Sertão: Veredas, romance publicado em 1956, por João Guimarães Rosa, e parte da ideia de que as questões da existência do diabo e da possibilidade do pacto, são as grandes dúvidas que vigoram na obra do autor mineiro, e fatos que se desvelam responsáveis pela problemática central do romance, por meio dos quais sairão todos os outros questionamentos sobre a existência humana: o ser ou não ser; o bem e o mal; vida e morte; deus e diabo, o amor e verdade. Para tanto, propomos um tipo de hermenêutica que possibilita o intérprete, ao questionar a obra, ser por ela questionado, indo em busca do que lhe é próprio: é o que chamamos de exercício de escuta crítica.
Instituto de Letras e Comunicação. Programa de Pós-Graduação em Letras.
A pesquisa propõe um exercício de crítica literária que tem como foco o pacto dialogal entre crítica e escuta, em Grande Sertão: Veredas, romance de Guimarães Rosa, publicado em 1956, a partir de umadesconstrução da tradição metafísica, que vê a arte como mera representação da realidade, e não mais comoencenadora de questões do real.Portanto, dialogamos comum tipo de hermenêutica que questiona os conceitos de críticarepresentativa que, ao nosso ver,aprisionam a obra literária, pois aanalisama partir de teorias predeterminadas,e nos doamos ao exercício de crítica como escutaoriginária das questões postas em obra pela obra literária. Neste exercício, somos convocados a pensar o não-pensado do pensamento, deixando com que a própria obra nos solicite sua teoria, convocando-nos à escuta crítica. Para tanto, fez-se necessário o questionamento dasquestões originárias manifestadas noromance de Rosa, como: Linguagem, Arte, Verdade (desvelamento), Ser, Ser-no-Mundo, Travessia, Diálogo e Pacto com o Diabo. Neste sentido, reaviva-se a relação essencial entre arte e verdade, em que esta é a própria dinâmica de velamento-desvelamento-velamento do ser das coisas, da phýsis.A obra de arte nadamaisé do que essa dinâmica, e nela e por elaprocura-se percorrer nossa travessia poética, questionando-nos a partir das questões que vão se manifestando, e das quais também somos doação, em busca de nossa aprendizagem poética.