Este ensaio discute a agraciada força das poéticas "menores" de dois grandes vates da literatura brasileira moderna: Guimarães Rosa e Osman Lins, através da análise do papel do riso e da comicidade na construção metalinguística de algumas de suas obras, que refletem, cada uma a seu modo, uma visão de mundo curiosamente próxima - afeita aos princípios da carnavalização e do circo. A alegria é, para esses escritores, a pedra fundamental de uma estética do insignificante e do ínfimo, e de uma ética profundamente humana, de vida, morte e renovação.
Em seu livro The open: man and animal, Giorgio Agamben argumenta que, embora a idéia do “humano” na sociedade ocidental tenha sido pensada, desde sempre, como uma misteriosa conjunção de um corpo natural e de um elemento sobrenatural, social ou divino, é preciso aprender a pensar o “humano” como o resultado de uma prática e de uma política intencional e deliberada de separação entre “humanidade” e “animalidade”. Baseando-nos nos conceitos deste crítico, e de outros como John Berger, W. J. T. Mitchell e Cary Wolfe, percorremos alguns textos de autores brasileiros, como Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Osman Lins, analisando como a metáfora animal é utilizada para representar o ser humano abjeto, em condições de sujeição, marginalização e degradação, o que não só revela o modo como o “humano” pode vir a se relacionar com os seus semelhantes em situações adversas, mas também o modo como esse relacionamento reproduz o preconceito atávico de sua superioridade sobre a natureza e os animais.
Faculdade de Letras, Departamento de Letras Vernáculas
Este trabalho desenvolve algumas reflexões básicas sobre o esoterismo na Literatura Brasileira, partindo do estudo de dois autores: João Guimarães Rosa e Osman Lins; e de duas obras escolhidas: Sagarana e Nove, Novena. A análise observa os elementos esotéricos encontrados nos textos, através de referências diretas ou simuladas. A estratégia centra-se na possibilidade de aproximação do fazer literário de Osman Lins ao de Guimarães Rosa, no que se refere à manipulação da palavra e à técnica de construção da narrativa.
A narrativa curta, também denominada conto, no contexto do modernismo tardio brasileiro, é o objeto de estudo deste trabalho. O conto possui uma caracterização própria, diferenciando-se de outras narrativas literárias naquilo que a teoria comumente denomina "extensão" ou, segundo Carlos Reis e Ana C. Lopes, uma "modalidade de variação temporal da narrativa". Todos os elementos que marcam a diversidade deste tipo textual em relação às demais formas narrativas, tais como: brevidade, simplicidade constitutiva, linearidade, concentração de enredo, concentração cronotópica, densidade dramática, singularidade temática, intensidade, univocidade e univalência, estão, de certa maneira, ligados à extensão. A análise e a interpretação dos componentes tempo e espaço na formação do cronótopo são realizadas, nesta pesquisa, com vistas ao reconhecimento de um pathos que, acredita-se, fornece densidade à brevidade do conto moderno. As fontes de pesquisa para análise e interpretação dos contos centraram-se em estudiosos especializados em teoria e crítica literárias que examinaram as categorias temporais e espaciais e aqueles que consideraram o cronótopo no contexto da modernidade, no século XX. Além destes, filósofos e pensadores voltados para o estudo do tempo e do espaço, considerando as narrativas como foco.
Este estudo apresenta um diálogo entre obras de escritores brasileiros atuantes na década de setenta, durante a ditadura militar brasileira pós-64, e livros de escritores anteriores cujas obras estão situadas no âmbito do século XX. Procura-se expor a relação produtiva, intrínseca à sua realização estética, formal e temática, que esses romances estabelecem entre si, e seu significado amplo em termos de crítica e historiografia literária. Os escritores abordados são: Machado de Assis, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Antonio Callado, Osman Lins e João Ubaldo Ribeiro. A base teórica fundamental para o estudo dessas relações está baseada na obra de Erich Auerbach e de estudiosos brasileiros, como Antonio Candido.