No presente estudo se interpreta o conto “Os cimos”, da obra Primeiras Estórias (1962), de João Guimarães Rosa, em diálogo com o episódio de Grande Sertão: Veredas (1956) em que Riobaldo e Diadorim realizam a travessia do rio São Francisco. A interpretação se faz à luz da viagem-travessia empreendida pelo homem, em seu percurso existencial, como motivo de aprendizagem constante da experiência de viver. Para o desenvolvimento deste trabalho, contou-se com a contribuição de Benedito Nunes (2009), para quem o homem é a viagem e a própria travessia acontecendo, na qual incessantemente se desvela o sentido da existência.
Este ensaio propõe um exercício crítico a partir da escuta das questões que se manifestam em Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa. Para tanto, reflito sobre o que vem a ser o exercício de escuta crítica originária, pensando em escuta como o se deixar invadir pelo real acontecendo,
e como podemos fazer uma leitura crítica poética, por meio do diálogo com a obra literária, que prevê o pensar como o deixar-se tomar pela linguagem, como logos.
O presente trabalho reflete sobre a questão da literariedade a partir da mística do pacto com o diabo existente na obra de João Guimarães Rosa, tendo em mente que toda grande obra de arte, quando se permite que ela se manifeste naquilo que ela é – sua poiésis –, inaugura mundo e instaura a verdade. Para tanto, discorremos sobre algumas questões primordiais ao exercício de escuta crítica: a relação intérprete–texto literário; o questionar pela linguagem narrativa; e a relação homem–real, pensadas no vigor da dialética.
O presente ensaio, prevendo a relação entre literatura e filosofia, trata da questão do pacto em Grande Sertão: Veredas, romance publicado em 1956, por João Guimarães Rosa, e parte da ideia de que as questões da existência do diabo e da possibilidade do pacto, são as grandes dúvidas que vigoram na obra do autor mineiro, e fatos que se desvelam responsáveis pela problemática central do romance, por meio dos quais sairão todos os outros questionamentos sobre a existência humana: o ser ou não ser; o bem e o mal; vida e morte; deus e diabo, o amor e verdade. Para tanto, propomos um tipo de hermenêutica que possibilita o intérprete, ao questionar a obra, ser por ela questionado, indo em busca do que lhe é próprio: é o que chamamos de exercício de escuta crítica.