É bem conhecida a importância que Aristóteles atribui ao "reto prazer" simultaneamente sensível e cognitivo - na Poética. Rosa transforma este elemento no tema aparentemente tão brasileiro e rosiano da "alegria". Elucidaremos, de um lado, as estratégias com as quais Rosa se inscreve firmemente numa longa tradição filosófica e estética; do outro, seu gênio de inovador-despistador, que esconde os problemas filosófico se funde a reflexão nas figuras concretas de suas histórias. elas, apanhamos apenas a lógica implícita do pensamento discursivo, que se apoderade nós com a leveza do prazer - da alegria.
De Magma a Grande sertão: veredas e Primeiras estórias, Guimarães Rosa percorre uma trajetória incomum no panorama da literatura brasileira. Discretamente, ele renuncia às tendências modernis- tas que marcaram a época da sua juventude e sua primeira obra. A partir de Sagarana, dedica-se a uma narrativa que procura conciliar as exigências mais modernas e universais com modelos imaginários e artísti- cos que parece considerar como os núcleos da identidade brasileira. Rastrearemos os atalhos e desvios que levam do Magma poético às veredas romanescas, passando por inúmeras associações híbridas com escritores e pensadores nacionais e mundiais.
Este artigo apresenta as obras de Machado e Rosa como duas formas complementares
de ultrapassagem do romantismo sentimental que aflige a cultura brasileira nos séculos
XIX e XX. Assim, vemos surgir uma certa continuidade entre os dois autores: isto é, o
princípio de compensação que nos faz passar da ironia prosaica de Machado à
intensidade íntima de G. Rosa, e da volubilidade frívola a uma profundeza
contemplativa ou trágica até então desconhecida na literatura brasileira.