A análise da violência no romance de Guimarães Rosa Grande Sertão: veredas revela
referências aos conflitos históricos brasileiros da época, situados entre a cidade e o campo, o
governo e a população do interior do país, os Vencedores e os Esquecidos da história. Além
disso, o tema da violência surge numa tensão entre uma memória que não passa, relacionada
ao recalque, e a pobreza da experiência do que não vale a pena ser lembrado.
Este artigo constitui um esboço de um dos temas de minha pesquisa de doutorado sobre a memória e o esquecimento no Grande Sertão: veredas, e aqui pretendo abordar e recolocar algumas relações entre a narrativa e as formas de memória no romance de Rosa, a partir das concepções benjaminianas sobre o tempo, a memória e o narrador, bem como da crítica de Davi Arrigucci-Jr. e os estudos de Maurice Halbwachs sobre a memória coletiva.
Este artigo constitui uma versão modificada de parte de minha tese de doutorado, e trata da questão do nome e da nomeação no romance Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa. A partir da teoria da linguagem de Walter Benjamin e de algumas noções da psicanálise, como inconsciente e recalque, o estudo procura analisar as relações entre a palavra, a imagem, a memória e o esquecimento.
Faculdade de Letras, Departamento de Ciência da Literatura
A presente tese tem por objetivo pesquisar as noções de memória e esquecimento no romance Grande Sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, tomando como principal orientação a fala de Riobaldo, seu narrador. Partindo das articulações entre a memória coletiva, a memória individual e a narrativa, encontra-se uma concepção de memória, no romance, como uma terceira instância, estabelecida sempre como negatividade, pautada nas concepções de inconsciente e real, de Freud e Lacan; e na concepção de um tempo-de-agora, ou tempo entrecruzado de Walter Benjamin. A tensão entre a travessia e a melancolia insere-se tanto nos aspectos históricos e coletivos da rememoração - no testemunho do narrador sobre a cidade que vem acabar com o sertão - como nos entraves para atravessar o trauma relacionado a Diadorim. O processo de rememoração de Riobaldo é concebido como composto de temporalidades que se sobrepõem, como uma montagem não-linear e não-objetiva, constituida a partir dos erros e fracassos da memória, que apontam para sua dimensão de fantasma, de ficção e de esquecimento.
Este trabalho partiu da observação de uma situação freqüente na obra de Guimarães Rosa, na qual o sujeito e coletividade se misturam, de forma a não ser possível dissociá-los. Buscou-se articular os paradoxos entre o arcaico e o moderno, a oralidade e a escrita presentes na obra rosiana, enquanto reflexão sobre uma realidade do Brasil dos anos 50.