A obra de Guimarães Rosa deixa transparecer sinais da construção de seu imaginário. Uma das chaves desse processo pode ser buscada na correspondência do escritor com o pai, revelando-se este último um manancial de torneios verbais, tipos humanos e anedotas sertanejas.
Após breve reflexão sobre a noção de alteridade do ponto de vista da psicanálise e do de Roland Barthes, o artigo propõe uma leitura do conto O Espelho, de Guimarães Rosa, com ênfase nas relações entre leitura e alteridade.
A originalidade e a especificidade da obra de J. G. Rosa residem em sua capacidade de dialogar com culturas e formas de expressão muito diversas. Esse diálogo não nivela as diferenças sociais e políticas, religiosas e nacionais, estéticas e éticas, porém lhes confere tensão dramática e permite vê-las em perspectivas inusitadas. Analisaremos alguns desses eixos a partir da análise de "O Espelho", conto que visa, para além do diálogo com Machado de Assis, uma reflexão sobre o realismo e o idealismo na literatura. Rosa inscreve sutilmente sua reflexão poética na tradição de Flaubert e Dostoiévski, de Goethe e Musil.
O objetivo deste ensaio é investigar, através da análise dos contos “As margens da alegria” e “Os cimos”, do livro Primeiras estórias, de Guimarães Rosa, e de alguns poemas de João Cabral de Melo Neto, o modo como esses autores abordam as ambigüidades do processo de modernização urbana no Brasil, ao elegerem a cidade de Brasília como ponto de partida para uma reflexão sobre as especificidades da interface moderno/arcaico na cultura brasileira.
Este artigo pretende percorrer os sentidos de sertão e sertanejo, tal como foram construídos no âmbito da literatura brasileira, pensando-os como emblemas de visões de nação e nacionalidade e propondo-os como sentidos que convivem e se confrontam na obra de João Guimarães Rosa. Busca ainda, destacando algumas semelhanças entre duas falas (a de Riobaldo, no plano ficcional, e a de Manuelzão, no plano histórico), discutir como a memória desempenha um papel fundamental na construção daqueles sentidos.
“As margens da alegria”, conto de abertura do livro Primeiras estórias encena, sob o signo da modernidade, a construção de uma “grande cidade” cujas bases utópicas serão examinadas em contraponto ao modelo de “cidades letradas”, emblematizado por Brasília, a mais contraditória encarnação dos sonhos de utopia política da modernidade brasileira.
Reflexão sobre a leveza irônica e a complexidade narrativa com que Guimarães Rosa corrige, em alguns contos de Primeiras estórias e de Tutaméia, leituras preconceituosas que não conseguem ver o outro na sua diferença.
Este texto propõe uma análise do conto “Nada e a nossa condição”, de Primeiras estórias, em que se relaciona o conteúdo do conto com a sequência de símbolos que o representa na orelha do livro. Objetiva, ainda, evidenciar a consciência metalingüística e semiótica de Guimarães Rosa, que utiliza os recursos icônicos da perigrafia para criptografar seus textos.
Este ensaio analisa o conto “A terceira margem do rio”, de João Guimarães Rosa, com o objetivo de explorar nele, mediante o viés da ambivalência, as complexas relações entre filho e pai, a partir de uma perspectiva literária e filosófica.
Este artigo objetiva refletir sobre como é abordado o enigma que se configura, a partir do século XIX, em torno do que se convenciona chamar de “eu” e de “realidade”, nos contos “O espelho: esboço de uma nova teoria da alma humana”, de Machado de Assis, e “O espelho”, de Guimarães Rosa.