Ignacio Assis Silva, em sua obra Figurativização e Metamorfose: o mito de Narciso (1995), reflete sobre a relação entre o mito de Narciso e a construção do sujeito em Jacques Lacan. Segundo o autor, Freud e Lacan leem o Narciso ovidiano não como lenda, tal qual o liam os gregos e os romanos, mas como mito: como figurativização da antropogênese do sujeito. Com base nas observações de Silva, estabelecemos uma leitura semiótica para o conto "O espelho" de João Guimarães Rosa, objetivando analisar como o enunciador constrói de forma mitopoética o ator protagonista do texto, lendo-o também como figurativização da antropogênese do sujeito em sua relação com o outro.
Partindo da análise do conto “A Terceira Margem do Rio”, de Guimarães Rosa, pretendemos refletir sobre o arranjo actancial e tensivo do acontecimento extraordinário (ou apenas acontecimento, nos termos de Zilberberg), seja em seu polo eufórico ou disfórico. A ocorrência desse evento necessariamente implica um jogo de presença atual ou potencial dos valores da ruptura e da convenção. Acreditamos que esse conto consubstancia as forças actanciais que estão em funcionamento quando esses valores estão em cena. Dessa forma, ele pode funcionar como baliza para futuros estudos sobre o evento extraordinário.