Este trabalho visa analisar os livros Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, e Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, autores conscientes da abertura interpretativa de sua criação ficcional. A presença permanente de novas interpretações em suas obras se traduz na recriação de realidades, como se entrássemos em um labirinto em constante expansão. A mímesis ocorrida é o processo de construção do labirinto, e as direções que esse labirinto vai tomar são imprevisíveis. Para que esse evento possa ser analisado nas obras de Nassar e Rosa, é indispensável que se identifique o efeito estético da recepção proposto por Hans Robert Jauss: uma compreensão da obra ligada ao horizonte estético do leitor, que também pode ser expandido através da interação entre obra e receptor. Assim, o labirinto passa a ser construído também pelo leitor da obra, sendo a interpretação um constante devir através dessa interação
Este trabalho se propõe investigar o homem humano rosiano através do personagem figural Diadorim. Seguindo pelas veredas Bakhtinianas e Ricoeurianas chegaremos ao palco polifônico por excelência, o ‘grande sertão’. Nele, analisaremos as vozes da paixão em Diadorim: o corpo, a ‘religio’ e a proclamação do homem humano rosiano no ‘Grande Sertão: Veredas’. Investigaremos as travessias desde o menino, Reinaldo, Diadorim, Deodorina da fé até o nascimento do homem humano: a efetiva travessia nonada. Logo, Diadorim é ‘coincidentia oppositorum’, a reunião dos contrários, que está determinada a eliminar ‘aquele que não é’. Apresentaremos a síntese da modernidade rosiana: Nem Deus, nem demo: Diadorim - o homem humano no palco polifônico do grande sertão, espaço onde “o diabo não há, existe é homem humano”.
O objetivo desta pesquisa é interrogar como o romance de João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, nos possibilita pensar a política e a justiça a partir de um conjunto de relações de forças conflitivas e instáveis. Analisando as experiências do personagem Riobaldo com o julgamento de Zé Bebelo, o pacto diabólico e os conflitos entre bandos de jagunços, buscamos perceber os processos de transformação subjetiva e diferenciação da realidade a partir da experiência jagunça. A escrita roseana consegue expressar estes movimentos em sua imanência sem encerrá-los em formas fechadas, mas mantendo seu trânsito entre oposições indecidíveis. Com isso pretendemos extrair da leitura do texto de Rosa algumas implicações políticas para se problematizar a violência da autoridade que impõe suas ordens e as formas singulares que complicam este sistema de ordenação e fazem escapar novas linhas de composição da vida. É possível então liberar a justiça dos axiomas de bem e mal que condicionam uma forma transcendente e idealista de pensar a ética passando a uma concepção de justiça enquanto demanda que mantém um movimento constante de atualização e transformação da comunidade.