ICH – Instituto de Ciências Humanas. Programa de Pós-graduação em Ciência da Religião
A tese intitulada “O bem e o mal na encruzilhada do sertão: o dobrar-se e desdobrar-se da unidade em Grande sertão: veredas” tem como objetivo refletir sobre os diversos modos pelos quais o bem e o mal se manifestam na referida obra de Guimarães Rosa (1908-1967). Como ponto de partida para a interpretação do tema em Rosa, partimos de algumas considerações elaboradas por Schelling (1775-1854), tentando encontrar afinidades e particularidades no romance em relação a este filósofo. Estórias, personagens e os significativos episódios do pacto com o diabo e do duelo final no Tamanduá Tão demandam atenção especial na reflexão sobre a problemática do bem e do mal na obra de Rosa. Através deste diálogo com Schelling percebemos que a obra de Rosa nos permitiu identificar vários desdobramentos do bem e do mal. Contudo, notamos também que tais desdobramentos resguardam uma unidade essencial originária entre o bem e o mal da qual são devedores.
Esta tese tem como proposta estabelecer um diálogo interdisciplinar entre a literatura de João Guimarães Rosa e a psicologia de Carl Gustav Jung. O objetivo da investigação é analisar a obra Grande sertão: veredas com um olhar junguiano, como se o narrador-personagem, Riobaldo, que fala ininterruptamente, estivesse em um “divã” com um suposto analista, o doutor, que o escuta pacientemente, ao longo da narrativa, sobre a sua vida turbulenta de jagunço entre amores e guerras, pois ele está na velhice e várias questões o atormentam. A fala de Riobaldo é investigada como busca pelo autoconhecimento e considerada como um processo terapêutico e o doutor que o escuta, como mediador fundamental neste processo. O sistema conceitual da psicologia junguiana é amplo, porém, utilizamos nesta análise principalmente os conceitos envolvidos no processo de individuação: persona / máscara, sombra, anima ,animus e self, além de outros aos quais recorremos ao longo da tese como aportes complementares.
Faculdade de Letras, Programa de Pós-graduação em Letras: Estudos Literários
O que se propõe neste estudo é investigar os procedimentos que em uma obra literária levam ao efeito de ―Fora na linguagem‖. O que é esse Fora? Que gama de efeitos produz? Quais os procedimentos para fazê-lo existir em uma obra de arte, na literatura em particular? Eis algumas das questões que nos interessam.
Para desenvolver tal procura em busca do Fora, utilizaremos como suporte e corpus teórico autores que seguiram a trilha do Fora na linguagem, tais como Roland Barthes, Maurice Blanchot, Gilles Deleuze, Pierre-Félix Guattari, Tatiana Salem Levy, dentre outros. Será a partir de cinco obras previamente selecionadas que exploraremos alguns dos procedimentos que levam ao Fora, assim como seu conceito aplicado à literatura: ― A Terceira Margem do Rio e ― Meu Tio Iauaretê, de Guimarães Rosa; Mar Paraguayo, de Wilson Bueno; Bodenlos: uma autobiografia filosófica, de Vilém Flusser e Bartleby, o escrivão, Herman Melville. Nosso objetivo não será analisar tais obras, mas, a partir delas, observar alguns dos procedimentos que levam ao Fora. Portanto, tomaremos delas apenas os recortes necessários.
Falaremos do que força o pensamento a pensar, do que antecede o pensar. Falaremos do Fora e do plano de imanência; dos corpos sem órgãos; dos devires moleculares e molares. Falaremos de linhas; pontos, encontros, fugas; máquinas; superfície de registro; produção, processo; fluxos e rupturas. Falaremos de limiares; entremeios; gradientes; fragmentações; linhas e margens que se desmancham, desdobram, invaginam, explodem; intensidades e potências; territorialização e desterritorialização.
Esta tese objetiva investigar as muitas manifestações religiosas do personagem-narrador
Riobaldo, no romance Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, e sua “inusitada” religiosidade. O foco central da pesquisa é a análise psicorreligiosa dos conteúdos presentes nas falas deste protagonista e, de alguns episódios simbólicos da narrativa. As investigações visam compreender as dúvidas e inquietações, que sempre perpassam o pensamento deste sujeito, considerado o representante universal do “homem humano”. Pressupostos teóricos psicanalíticos de Freud, Lacan, Ana-Maria Rizzuto e alguns seguidores respaldam a prática terapêutica do narrador no contar sobre sua vida. Já velho e, descansando em sua rede, ele precisa falar para se entender, superar suas dificuldades e “atravessar os fantasmas” de sua existência. Sua religiosidade, assim como sua psique, e as formas de compreensão do mundo são tão multifacetadas, que nenhuma religião lhe satisfaz completamente. Mas é através do amor e da reza, que ele busca compreender a realidade, pois considera a religião como “coisa do coração” e a condição de ser solitário e impotente é que o faz crer em Deus.
Estudo da brasilidade, em suas diferentes representações, através das relações de descontinuidade e permanência observadas em narrativas da autoria de Guimarães Rosa e Rubem Fonseca, que mimetizam determinadas formas de manifestação de violência, tendo como fundamentos identidade, literatura e estudos culturais. A partir da definição de violência, que varia de acordo com os paradigmas culturais de cada sociedade, delineou-se um histórico das construções discursivas que legitimam ou condenam suas manifestações, desde a República Velha até o regime militar, período no qual se contextualizam as obras dos autores citados. Reflexões embasadas numa metodologia interdisciplinar, sobre a moral da honra e da vingança, a luta por transformações sócio-político-econômicas e estratégias de sobrevivência num meio adverso, visam demonstrar a mudança que afetou a identidade cultural brasileira, submetida a um intensivo processo de industrialização e urbanização na extensão temporal referida. Articulando postulados teóricos das ciências humanas e estudos relevantes da fortuna crítica desses escritores, efetuou-se uma abordagem comparativa de determinadas estórias que, além de reiterar os antagonismos evidentes, revela também a existência de pontes entre as margens representadas por estes dois leitores do Brasil.