Estudo das obras de Guimarães Rosa e Rubem Fonseca focado na ruptura que este estabelece com aquele. Ruptura intrinsecamente ligada à representação dos espaços rural e urbano que cada um empreendeu. As descontinuidades observadas entre ambos são consideradas indício de desgaste de uma vasta tradição literária empenhada em representar, de maneira ufana ou crítica, mas sempre hegemônica, uma identidade nacional que sintetizasse a heterogeneidade cultural do país. Não obstante, a permanência que se constata em certas manifestações de violência presentes em muitos de seus enredos revela uma imagem de Brasil que permanece quase inalterada.
Estudo de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, e dos contos "Intestino grosso", “Entrevista”, “Feliz Ano Novo”, “Mandrake”, “O cobrador” e “Os inocentes”, de Rubem Fonseca, com o objetivo de mostrar como os episódios narrativos enfocados contêm manifestações de violência que implicam um caráter inocente, em certo sentido, dos personagens que as executam, sendo, portanto, mais preciso classificá-las como monstruosidades do que como ações criminosas, levando-se em conta que a perversidade inerente aos monstros faz parte do não saber que impulsiona seus atos.
O artigo apresenta um estudo comparativo entre o episódio da guerra deflagrada pelo personagem Zé Bebelo, em Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, e os atentados cometidos pelo narrador-protagonista do conto “O cobrador”, de Rubem Fonseca. Com relação ao primeiro, pretende-se demonstrar sua compreensão idealizada da modernidade, segundo a qual a redenção da condição miserável dos sertanejos só seria possível através de uma revolução que impusesse a ordem republicana no sertão. Já com a análise de “O cobrador”, tencionamos explicitar a dissimulação com a qual o narrador se descreve como quem luta por uma sociedade mais igualitária; objetivo que, à semelhança do ocorrido com Zé Bebelo, também não é alcançado. A frustração dos ideais de ambos os personagens articula-se, por sua vez, a uma imagem de desigualdade social, que aproxima os textos de ambos os autores, justificando a abordagem comparativa.
Estudo de três contos de Sagarana e de fragmentos de Grande sertão: veredas, orientado pela perspectiva dos estudos culturais, cujo foco é a representação de determinadas formas de manifestação de violência vinculadas aos paradigmas de honra e vingança (presentes no imaginário da cultura popular do sertão mineiro), através de uma metodologia interdisciplinar inerente à análise das relações entre literatura e identidade
cultural.
Estudo da brasilidade, em suas diferentes representações, através das relações de descontinuidade e permanência observadas em narrativas da autoria de Guimarães Rosa e Rubem Fonseca, que mimetizam determinadas formas de manifestação de violência, tendo como fundamentos identidade, literatura e estudos culturais. A partir da definição de violência, que varia de acordo com os paradigmas culturais de cada sociedade, delineou-se um histórico das construções discursivas que legitimam ou condenam suas manifestações, desde a República Velha até o regime militar, período no qual se contextualizam as obras dos autores citados. Reflexões embasadas numa metodologia interdisciplinar, sobre a moral da honra e da vingança, a luta por transformações sócio-político-econômicas e estratégias de sobrevivência num meio adverso, visam demonstrar a mudança que afetou a identidade cultural brasileira, submetida a um intensivo processo de industrialização e urbanização na extensão temporal referida. Articulando postulados teóricos das ciências humanas e estudos relevantes da fortuna crítica desses escritores, efetuou-se uma abordagem comparativa de determinadas estórias que, além de reiterar os antagonismos evidentes, revela também a existência de pontes entre as margens representadas por estes dois leitores do Brasil.
Análise comparativa com enfoque no caráter etnográfico de Grande sertão: veredas, de Guimarães
Rosa, e de A arte de andar nas ruas do Rio de Janeiro, de Rubem Fonseca. Considera-se que, no
romance rosiano, o interlocutor silente de Riobaldo é um senhor que pontua, corrige e adéqua a fala
do personagem ao gosto do leitor letrado, persistindo na relação de alteridade aí existente a mediação
feita pelo intelectual citadino, o qual ainda fala pelo Outro. Quanto ao conto de Rubem
Fonseca, o caráter etnográfico da literatura não resvala nessa prática tradutória, pois o narrador
reproduz, por exemplo, uma pichação dos Sádicos do Cachambi no Teatro Municipal, preservando
a desobediência dos marginais à norma padrão da língua, transmitindo, sem mediações, um enunciado
que viola a cultura dominante. Sob esse viés, pretende-se demonstrar como a figuração de alteridade
de autoria fonsequiana realiza-se mais diretamente do que a de Rosa.