Vinculado principalmente, segundo o clássico estudo de Leonardo Arroyo, A cultura popular em
Grande sertão: veredas, à tradição oral, o suposto pacto com o diabo, na obra de Guimarães Rosa,
tem sua fonte escrita clássica mais antiga, no que diz respeito ao mito fáustico, na peça de teatro A história trágica do Doutor Fausto, de Christopher Marlowe. Se o texto do contemporâneo de
William Shakespeare tem por base a tradução do livro anônimo, publicado em 1587, o Volksbuch,
pelo editor alemão Johann Spies, ele se insere no palco da ambiguidade: Fausto é um exemplum da
moral protestante ou sua face prometeica, como símbolo das aspirações renascentistas? No caso do
opus magnum do escritor mineiro, onde também convergem vertentes eruditas e populares do mito, este não se exila deste terreno da dúvida. Porém, se em Marlowe o contrato demoníaco é eleito como hýbris que leva o personagem à sua possível derrocada pelo concurso com Mefistófeles, em Rosa há uma desconstrução da própria ideia de pacto, em que Riobaldo, ser por excelência dividido, não exibe marcas evidentes do ritual luciferino, mas sua face fantasmática, eco do nada e do desregramento.
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