Este artigo pretende desenvolver uma análise comparativa entre a passagem em que o personagem Gavião-Cujo transmite aos jagunços a notícia da morte de Joca Ramiro em Grande Sertão: veredas e a música “Notícia do Norte” do grupo paulista Nhambuzim. As relações intersemióticas devem ser exploradas de modo a proporcionar novas possibilidades de estudo, trabalho e interpretação. Para tanto, foi utilizada a semiótica como ferramenta teórica a partir da perspectiva de autores como Hildo Honório Couto e Lúcia Santaella, além de outros que nos ajudaram no aspecto musical, como Murray Schafer e James Russel. Ao analisarmos o processo intersemiótico, bem como ao avaliarmos até que ponto a música se assemelha ao romance, chegamos à conclusão de que esses sistemas são complementares e ganham novas dimensões quando contrapostos.
Integrante do grupo de pesquisa em literatura e afins – Nonada, coordeno
atualmente o projeto “Enciclopédia do grande sertão”, cuja proposta é reunir reflexões
temáticas de diferentes autores, na forma de verbetes, sobre Grande sertão: veredas. Neste
trabalho, pretendo fazer alguns apontamentos sobre vestígios, pistas e sinais deixados pelo
escritor nos livros de sua biblioteca – hoje sob custódia do IEB – Instituto de Estudos
Brasileiros da Universidade de São Paulo – que remetam ao processo de composição do
romance. Para tanto, fiz um levantamento em toda publicação, constante na biblioteca,
anterior a 1956, ano da primeira edição da narrativa, que contivesse alguma marginália a
servir de índice que levasse ao processo de composição do relato de Riobaldo. Por essas
pistas, é possível entrever os diálogos que o escritor estabelece com os mais variados saberes,
tais como filosofia, religião, matemática, biologia, medicina, geografia, história, literatura,
dentre outros. Assim também o é com as mais diferentes línguas, como o alemão, o espanhol,
o francês, o inglês, o italiano, e outras mais. Através desses sinais, podemos provisoriamente
concluir uma primeira premissa: a natureza enciclopédica (Umberto Eco) de Grande sertão:
veredas, que o projeta como a uma espiral; um redemoinho rumo ao infinito.
Analisamos, através da semiótica, a relação entre música e literatura. Nosso objetivo foi explicitar, por meio da teoria semiótica, as relações existentes entre a obra Grande sertão: veredas e a cantata cênica Ser tão dentro da gente. Investigamos o processo de tradução intrasemiótica (entre mesmo signo), quando analisamos a parte verbal da cantata, em consonância com o romance, e a tradução intersemiótica (entre signos diferentes), quando analisamos as partituras da cantata em consonância com o romance. Foram analisados os quatro tempos da cantata, os quais foram nomeados pelas cores: vermelho, azul, verde e marrom. Tentamos apontar como o romance está representado nesses tempos e cores.