Este artigo pretende refletir sobre a narrativa “A benfazeja”, décimo sétimo conto do livro Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa. Em nossa leitura, propomos a existência de um viés que dialoga com a tragédia grega antiga, aclimatado no sertão dos gerais. Assim, o diálogo com o drama grego dá-se, sobretudo, na imersão de elementos que compõem as tragédias, como a catarse e o destino (moîra), mas lido na proposta rosiana, isto é, na perspectiva do cotidiano, lugar de muitas “estórias”, as quais se ligam ao teor das temáticas humanas universais. Além disso, a narrativa perfaz-se no jogo retórico das paixões, o qual segundo Aristóteles, é peça importante no julgamento, e que nos servirá de fundamento ao pensarmos juízos de valores em relação às personagens.
A proposta deste trabalho é discutir alguns aspectos e questões da Teoria da Literatura tendo como corpus literário o romance Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa. Dentro da proposta a que nos dedicamos, discutimos, temas ligados à representação, ou mímesis, conceitos que os filósofos Platão e Aristóteles introduziram nos estudos que hoje chamamos literários e que são, por mérito, temas relevantes das adjacências literárias. A representação que em Platão era subversiva, que em Aristóteles era necessária, e que nos estudos é evidente, leva-nos a refletir acerca do constructo literário. A mímesis foi associada, no primeiro capítulo, aos mecanismos diegético da Memória, antia e venerada Deusa, passando pelas questões evidentes dos dois filósofos, a imitação e a representação, para chegar ao mecanismo diegético do narrador e, por não, único personagem do romance rosiano, que, ano final, nos leva a conclusões de que o que ele faz é apresentar-se - e não imitar ou representar - fazendo-o, antes de tudo, a si mesmo, e não ao interlocutor que parece acompanhá-lo durante toda a narrativa. Desta forma, ele nos leva a um outro aspecto inerente à mímesis, ou seja, à catarse que este narrador se fará promover.