O presente artigo tem por objetivo apresentar uma análise dos usos dos pronomes pessoais “nós” e “we” em um corpus paralelo ficcional, composto pelos textos Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, e sua única tradução para o inglês, The devil to pay in the backlands, de James L. Taylor e Harriet de Onís. A investigação busca entender como os pronomes são usados quando os contextos nos quais eles estão colocados implicam a construção de situações de conflito armado. O artigo busca dialogar com pesquisas que investigam o uso dos pronomes pessoais como Barbara e Gouveia (2004) e Maia (1998), e também estabelecer diálogos com trabalhos que tratam da construção de identidades e de conflito como Leudar, Marsland e Nekvapil (2004) e Brewer (2011). Metodologicamente, foi utilizada a ferramenta software AntConc, com vistas a realizar trabalhos de levantamento e filtragem de dados para a pesquisa. Dentre os resultados, destacam-se a frequência de elisão do pronome “nós” em português (88,7% dos casos levantados a partir do corpus são de usos elípticos, contra 11,3% de usos explícitos); destaca-se também o uso explícito, e anteposto ao verbo, do pronome “we”, em língua inglesa (96% das linhas analisadas se encaixam nessa situação) – o que condiz com a estrutura esperada para a língua inglesa. No que diz respeito à construção de identidades coletivas, os dados contrariam as expectativas iniciais da pesquisa, não sendo unânimes os usos em referência aos grupos aliados, tampouco as associações esperadas de prosódias semânticas positivas construindo os grupos identificados como aliados.
Com base no pressupostos da Linguística de Corpus, este artigo propõe uma análise léxico-gramatical e semântica das unidades fraseológicas, mais especificamente as colocações com a palavra “feito” que denotam sentido de comparação, na obra Grande Sertão: Veredas (1994)de João Guimarães Rosa. Para tanto, buscou-se fundamentar em Corpas Pastor (1996) para a discussão acerca das unidades fraseológicas, em Halliday (1994) sobre as relações entre o léxico, a gramática e o estrato semântico, e em Berber Sardinha (2004, 2009) a respeito da Linguística de Corpus. Os resultados deste estudo ressaltam a importância de se considerar os elementos linguísticos como parte preponderante da história e da cultura de um povo, bem como a relevância de se evidenciar a considerável contribuição que a Linguística de Corpus tem trazido ao estudo da Fraseologia (especialmente, com corpus literário) no Brasil.
Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas
Este trabalho pretende analisar três aspectos temáticos da narrativa rosiana “Campo Geral”, a saber, o olhar, enquanto representação da inadequação de Miguilim perante a vida; as estórias, como símbolo de sua sensibilidade poética; e a religiosidade, no que tange ao desenvolvimento de sua fé ao longo do texto. Com o intuito de observarmos como o tradutor Edoardo Bizzarri os reescreveu na língua italiana, nosso objetivo é o de refletir sobre o texto em italiano, partindo das seguintes questões: como se deram as escolhas do tradutor com relação aos vocábulos cujo significado é desconhecido ou diversificado para o leitor italiano? Suas soluções tradutórias seriam mais explicativas ou criativas? Para tanto, buscamos entender o ato de traduzir como sendo uma analogia da terceira margem, ou seja, como uma ação que perpassa tanto a língua de partida (margem de cá), quanto à de chegada (margem de lá), fazendo da tradução uma linguagem própria, que se constrói em meio as diferenças entre as línguas. Dessa forma, para embasarmos nossa proposta, partimos de alguns aportes teóricos propostos por Walter Benjamin (2001), no que diz respeito à questão da traduzibilidade de cada texto, e de Antoine Berman (2007), ao enxergar a tradução como sendo experiência nela mesma, ou seja, que nasce da vivencia de quem a está conduzindo. Nesse sentido, nossa metodologia configurou-se dentro do tema proposto, levantando as principais características do texto original e analisando-as em concomitância com o texto traduzido, além disso, recorremos ao uso das ferramentas computacionais do programa WordSmith Tools, propostas pela Linguística de Corpus, com as quais pudemos ter acesso às palavras-chaves relacionadas aos temas em questão, bem como às linhas de concordâncias e número de recorrência dessas palavras no texto. Sabendo que os livros de Guimarães Rosa são repletos de imagens locais e de construções linguísticas apuradas, observamos que as opções tradutórias de Bizzarri procuraram manter a especificidade da narrativa rosiana, mas com algumas adaptações, aproximações, ou mesmo explicações dos vocábulos em que as diferenças linguístico/culturais prevalecem.