Muito mais do que extensão do território que se abrange com um lance de vista, a paisagem é presença que se revela pelo caminhar. E não se revela cabalmente ou por completo, não só porque a todo visível corresponde um invisível, mas também porque a completude transformaria a paisagem em mero objeto destituído de horizontes, ou seja, de possibilidades e de mistério. Assume-se aqui que a riqueza de sentidos da paisagem não se limita à sua excepcionalidade, mas é extensiva às situações banais, e que o desvelamento poético é o modo de trazer a paisagem à presença sem destruir o seu segredo. Para dar tratos ao assunto, o presente artigo toma por referências reflexões tanto de pensadores (alguns dos quais pensadores da paisagem) quanto de poetas, e apóia-se no conto O recado do morro, de Guimarães Rosa, para elaborar a relação entre a paisagem, o caminhar e a revelação poética.
O presente trabalho tem por objetivo analisar a construção do espaço no conto “Os cimos”, último do livro Primeiras estórias, de Guimarães Rosa. Nosso escopo é determinar como a construção do espaço, feita pelo narrador, homologa ou não os percursos temáticos e influencia a construção do ser da personagem principal. A metodologia que utilizaremos é a da topoanálise, mais as propostas de alguns teóricos como Bachelard e Cassirer. Os espaços da intimidade, de dualidade entre o grande e o pequeno, o interno e o externo do ser, bem como a projeção desses espaços “no” e “pelo” outro são alguns dos pontos discutidos no desenvolvimento deste trabalho.
Este artigo se apresenta com o objetivo de interpretar a percepção das paisagens presentes no romance de Guimarães Rosa, “Grande Sertão: Veredas”, considerando as experiências do personagem Riobaldo. O livro foi estruturado em uma extensa narrativa oral em que Riobaldo, narrador-personagem, relata suas histórias, lutas, medos, dúvidas e amores tendo como cenário os sertões localizados nas divisas de Minas Gerais, Goiás e Bahia. Ao longo da obra é possível identificar paisagens que vão se entrelaçando reconstruindo as cenas que envolvem o romance estabelecendo diálogo entre Literatura e Geografia. O autor projeta em Riobaldo os símbolos da sua experiência, do seu espaço vivido, das ideias e emoções reveladas na paisagem, onde os sentimentos de topofilia e topofobia se encontram, percorrendo toda a obra, emitindo as emoções do Sertão. A ferramenta de nomeação das paisagens, a toponímia, foi muito utilizada por Guimarães Rosa sendo possível identificar, por meio dos nomes, os sentimentos de afeição e rejeição, e mesmo aspectos físicos da paisagem.
Se a representação artística é concebida não puramente como reprodução pictórica ou literal das imagens apropriadas pelo indivíduo, mas como um processo de (re)elaboração das formas, a paisagem, na literatura, pode ser compreendida, então, como um reflexo de quem olha. No entanto, para tal compreensão, se faz necessário entender uma natureza que represente além de um cenário ou plano de fundo das ações dos personagens. É importante refletir acerca de uma representação literária que conceda à natureza o papel de elemento constitutivo da obra, ou seja, como elemento narrativo capaz de transmitir e incorporar significados relevantes ao conteúdo das obras. Assim, o vínculo da representação da natureza aos demais elementos constitutivos da obra é necessário para reconhecer em algumas obras a presença da natureza como atuante e imprescindível no transcurso da narrativa. Nesse aspecto, o artigo propõe um breve estudo da representação literária da natureza para servir como auxílio para as análises da obra “Campo Geral”, de Guimarães Rosa, no que tange à representação da natureza nessa obra, porquanto, em “Campo Geral”, a paisagem é erigida ao patamar de representação das descobertas do personagem Miguilim.
Em 1947, uma expedição organizada pela Universidade do Brasil (UB), no Rio de Janeiro, rumou para Mato Grosso e percorreu Campo Grande, Corumbá, Nhecolândia e o Pantanal Mato-Grossense. O grupo foi composto por estudantes da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, coordenados pelo professor Hilgard O’Reilly Sternberg, e estudantes do Instituto Rio Branco, liderados pelo diplomata, professor e escritor João Guimarães Rosa. Informações sobre esta expedição pouco aparecem nos registros de literatura e arte, constando apenas em passagens vagas e incompletas sobre o período na bibliografia de Rosa. A história desta expedição será brevemente apresentada com base numa investigação (ainda em processo) em arquivos públicos e privados. Uma reflexão baseada no discurso de posse de Rosa na Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, abordará a sua relação com a poesia e a geografia. O texto “Sanga Puytã” (1947), do autor, será explorado em um exercício para compor um esboço da paisagem da expedição. O artigo se encerra com a argumentação sobre o uso da linguagem verbo-visual e de ferramentas para compor a história da expedição de1947 ao Pantanal.