Este artigo tem como objetivo mostrar as relações que João Guimarães Rosa
travou com a família judaica de Israel Klabin. A partir das correspondências entre Rosa
e Klabin e de uma entrevista realizada por mim, intento demonstrar o filossemitismo
de Rosa. Além disso, com base em documentos, livros e pesquisas, discuto o
conhecimento e a atuação de Rosa na emissão de vistos para judeus durante seu
período na Embaixada Brasileira em Hamburgo.
O trabalho apresenta uma leitura do romance de Guimarães Rosa de 1956 do ponto de vista de uma série de topoi desenvolvidos dentro da teoria da confissão e do testemunho: Riobaldo testemunha passagens de sua vida diante de um ouvinte/dos leitores. A violência do sertão, derivada em parte do jogo entre a anomia e a lei da força, desdobra-se nas angústias derivadas do amor impossível por Diadorim. Como em muitos textos de forte ?teor testemunhal?, a fragmentação da memória e a sua espacialização guiam o fluxo da narrativa. Constrói-se ao longo do livro uma ?topografia da memória?, que é lida como uma encenação de uma memória do trauma. Oscilando entre testemunho e confissão, o texto permite uma leitura do trabalho literário funcionando como a encenação de um teatro da memória da ?catástrofe?. O tema da relação intrínseca entre lei e violência, assim como o espetáculo do corpo em dor, também presentes no livro, são outras características de atos testemunhais. Apresenta-se também o elemento falocêntrico do testemunho e da confissão atuando no romance. Mostra-se como tudo fica muito mais interessante ao vermos estes topoi atuando dentro de um texto sofisticado de ficção, que também os transforma.