Para Edward Said, intelectual é aquela figura cujo desempenho público não pode ser previsto nem forçado a enquadrar-se numa linha partidária ortodoxa ou num dogma rígido. Em As representações dos intelectuais, no entanto, ele se confessa desanimado com essa percepção, pela tendência que observa nesta classe de promover a alta cultura, deplorando o “homem comum” e a cultura de massa. Neste artigo, discutimos brevemente as estratégias de posicionamento crítico e autocrítico de Guimarães Rosa e de Clarice Lispector frente ao problema, a partir de uma abordagem comparativista do conto “A hora e a vez de Augusto Matraga” e da crônica “Um grama de radium – Mineirinho”.
Guimarães Rosa e Clarice Lispector têm sido vistos como fenômenos isolados em nossa história literária, como se eles inaugurassem caminhos de todo inéditos em nossa literatura. Este trabalho procura mostrar que essa sensação se deve menos à obra desses dois autores do que à visão pouco abrangente que se cristalizou acerca da geração que os antecedeu. De fato, um olhar cuidadoso sobre o romance de 30 demonstra que o sistema literário brasileiro estava pronto para o surgimento de Guimarães e Clarice nos anos 40.
Neste artigo, abordamos sobre a linguagem de Clarice Lispector e a de Guimarães Rosa. Valendo-nos de duas obras de cada um desses autores: A paixão segundo G. H. e Laços de família, e Noites do sertão e Primeiras estórias, do segundo, procuramos mostrar que elas são interessantes não somente pelo tipo de linguagem, mas também pelos assuntos abordados.
As obras de Clarice Lispector e Guimarães Rosa, dentre outros temas, problematizam de maneira muito intensa a constante busca do ser humano pela sua essência em contraponto com o massacrante cotidiano da vida. Dentre muitas possíveis, há duas questões pertinentes que emergem das trajetórias dos personagens claricianos e rosianos: O que há de universal em cada indivíduo? Como podemos obter a individualidade numa sociedade massificada? Em suma, tentamos apreender como cada autor persegue a essência e a constituição do sujeito através da experiência de vida construída na teia ficcional. Com isso, nos permitem identificar a violência praticada contra o indivíduo pela coletividade na qual está inserido. A sociedade pode ser opressora em todos os seus âmbitos, inclusive no familiar; e é isso o que se observará na análise de “Os laços de família” e “Os irmãos Dagobé”, nos quais também, amparados em aparato crítico, buscamos identificar as soluções encontradas pelos personagens claricianos e rosianos para constituírem-se como sujeitos de sua existência.
Os animais se acompanham, através de eras e culturas, dum misto de fascínio reverente e desdém
superior, mas qualquer que seja a tendência que predomine, a alteridade radical dos bichos convida
sempre à estetização. É o que tem mostrado a recente vaga de atenção ao mundo não-humano em
literatura, revelando, em nomes conhecidos, nítidos pendores zoopoéticos. Ensaiamos aqui um
breve sobrevoo das obras de três zoopoetas brasileiros incontornáveis.