Estudo do conto "A hora e a vez de Augusto Matraga", considerando estrutura narrativa e personagem, reconhecíveis como embrião da totalidade da obra do autor. Identifica três etapas definitivas na ação do protagonista: busca de auto-afirmação; ressurreição e reencontro com a natureza e consigo mesmo; paz e plenitude compensatórias, que levam ao reconhecimento do espírito religioso ou misticismo bronco como uma das vertentes mais ricas em Guimarães Rosa.
Este trabalho analisa Meu tio o Iauaretê, conto de João Guimarães Rosa, publicado no livro Estas Estórias, em 1969. Na narrativa, há dois enredos sobrepostos: a ação principal, que se desenvolve na forma de um mono-diálogo entre Macuncozo e o forasteiro e transcorre em tempo cronológico; e as estórias contadas pelo homem-onça, que se estabelecem em tempo psicológico. Primeiramente, apresenta-se uma breve contextualização do conto a partir de seus aspectos composicionais. Em seguida, analisam-se as bases temáticas que desencadeiam a narrativa. Por fim, reflete-se sobre os aspectos míticos da narrativa, desdobrados na questão do dionisismo e da ética. Os principais resultados apontam que os receios do protagonista em revelar e se revelar acarretam a construção vagarosa da narrativa, que culmina com a elucidação de sua metamorfose, se não apresentada, presentificada pelo texto. A noção de não-ser é suscitada a partir das contradições de Macuncozo envolvendo identidade étnica, nomadismo e caráter diabólico do narrador-personagem. Na medida em que ele diz habitar sem hábitos, negando qualquer presença de lugar, faz com que negue também o ser, originando o devir. O dionisismo e a ética consagram-se no ritual metamórfico que celebra a alimentação, a estética e a bravura. Conclui-se que a lógica que se sustenta em Meu tio o Iauretê não é uma lógica anterior e pré-concebida por valores externos, mas sim uma lógica do indivíduo. Por isso, o conto alcança uma dimensão mais ampla, lidando com problemas como o da raça e do meio, que são universais.
O presente estudo propõe-se a explorar a carga de afinidades entre a poesia de Adélia Prado e a obra de Guimarães Rosa Grande sertão: veredas. Os aspectos característicos da poeta, que se aproximam e se afastam daqueles do escritor, mostram uma poética em que se reconhece a presença do romance, que a própria Adélia Prado assume como matriz de inspiração de seu fazer poético. Posteriormente, a pesquisa particulariza-se em relacionar trechos do romance rosiano a alguns poemas de Poesia Reunida e A duração do dia, em que a autora, movida pela percepção híbrida do sagrado em meio ao cotidiano, faz uso da linguagem como canal de passagem do imanente para o transcendente e da relação possível entre a experiência mística e a poesia, configurando-se para a poeta Grande sertão: veredas como sua Bíblia Literária.