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Iniciação Científica em Jornalismo

CIÊNCIA

Conheça a trajetória daqueles que optaram pela pesquisa na ECA

A iniciação científica, ou IC em abreviação, é o primeiro passo de um estudante universitário ao adentrar no mundo acadêmico. É onde se tem o primeiro contato com a pesquisa profunda e um compromisso de se acrescentar algo novo para com a sociedade. Como relata o professor e orientador Vitor Blotta, fazer um projeto de iniciação científica, principalmente na área da comunicação, é um ato de resistência. Devido à pouca valorização da pesquisa e da ciência no Brasil, o aluno que faz iniciação científica é aquele que tem realmente gosto pelo estudo.

Fazer uma iniciação científica como aluno de jornalismo significa buscar sobre comunicação, um campo não tradicional para o mundo das pesquisas, uma vez que estas são mais difundidas nas ciências da natureza e nas humanidades. O professor Vitor Blotta afirma que, normalmente, as pesquisas na área do jornalismo  “se dividem entre representações e discursos em produções midiáticas e a recepção de determinados conteúdos pelas audiências”.

Juliana Alves, estudante de jornalismo do sétimo semestre, instiga que, “se tenho a oportunidade de estudar na USP, um dos maiores polos científicos da América Latina, por que não realizar uma pesquisa?”. Para ela, iniciar um projeto de IC foi uma forma de aproveitar a universidade por completo. Além disso, a pesquisa representa uma passo a mais na busca de um intercâmbio e uma facilitação de seu futuro Trabalho de Conclusão de Curso ou mestrado, já que a iniciação pode ser posteriormente publicada como artigo.

Após ler alguns projetos e conversar com pessoas da área, Juliana decidiu estudar na área do Jornalismo Literário, com aprofundamento no gênero de perfis jornalísticos. Seu objeto de estudo é baseado no livro “O segredo de Joe Gould”, de Joseph Mitchell. A partir do livro, ela busca analisar outros perfis para, assim, poder construir o seu próprio, inteiramente humanizado, como produto final prático. A entrega de sua iniciação científica está prevista para outubro de 2023.

Imagem 1: Juliana Alves Mendonça [Gustavo Shimizu/Acervo Pessoal]

Juliana Alves Mendonça [Imagem: Gustavo Shimizu/Acervo Pessoal]

Para ampliar as possibilidades profissionais e não excluir o meio acadêmico, Carolina Borin, que cursa o quinto semestre de jornalismo, optou também por realizar um projeto de iniciação científica. Seu projeto está em fase inicial, sob aprovação da primeira versão. A pesquisa busca abordar como integrantes de duas ocupações de moradias em São Paulo produzem narrativas sobre si próprios, em oposição ao que aparece nos grandes veículos de mídia. A respeito do processo inicial, Carolina conta que “primeiro, há uma fase de leituras e bibliografia e, depois, de construção dos relatórios que a gente produz”.

Começar a iniciação científica durante o ensino remoto aparenta ter dificultado o processo. A estudante relata que o contato com a pesquisa demorou mais para ser construído e que “conhecer grupos de pesquisa da ECA e outros institutos foi mais difícil”. Seu interesse pela área surgiu a partir de uma oficina sobre IC ministrada pela professora Rosana, para a matéria Ciências da linguagem: narrativas e discursos.

Imagem 2: Carolina Borin [Acervo Pessoal]

Danilo Queiroz, aluno do terceiro semestre de jornalismo, afirma que o aluno que faz iniciação científica precisa ter em mente que sua pesquisa é uma responsabilidade com a sociedade. Ele declara que, ao entrar na USP, reviveu seu sonho de se tornar professor, o que o levou a iniciar sua carreira acadêmica. Orientado pelo professor Vitor Blotta, sua pesquisa trata sobre a regulamentação das mídias, liberdade de expressão e liberdade religiosa, tendo como objeto de pesquisa discursos do pastor André Valadão. Ele expõe que o tema de sua pesquisa toca seu interesse pessoal, principalmente por ser cristão, mas, a partir de um trabalho aprofundado, transforma isto em uma pesquisa que agrega à sociedade e às relações midiáticas.

Danilo explica que o processo de uma iniciação científica é muito complicado. Já está em seu sexto projeto, mas é justamente sua curiosidade e interesse no estudo que o instigam a não desistir. Assim, permanecer e dedicar-se à pesquisa científica é mais difícil do que parece num primeiro momento. O universitário conta inclusive como, apesar do desejo em dedicar-se totalmente a IC,  tem dúvidas sobre deixar seu estágio de lado, pois o valor oferecido pelas bolsas não atende às suas necessidades como estudante tão bem quanto o estágio.

Imagem 3: Estudante Danilo Queiroz [Acervo Pessoal]

Entende-se, então, uma discussão em torno do lugar que a comunicação, como área do conhecimento, ocupa no ramo da pesquisa acadêmica. Danilo Queiroz entende que a comunicação se encontra em um limiar entre as ciências naturais e as ciências humanas.  “O método das humanas é puramente acadêmico e extremamente teórico. Já o método das naturais é puramente aplicável. E o da comunicação é acadêmico e aplicável”, explica. Ele ainda afirma que o principal desafio consiste no público, uma vez que quem consome o produto dos estudos de  comunicação são as grandes massas, a sociedade em geral, e não um público restrito que já está acostumado com o linguajar e os formatos acadêmicos.

Juliana Alves, em contraponto, argumenta que a área da comunicação é muito mais recente que as áreas mais “tradicionais”, e que, por isso, não pode ser comparada com elas. “A gente pode descobrir novas perspectivas, porque ainda estamos lapidando a pesquisa nessa área”, complementa. Carolina Borin concorda com Juliana e afirma que a pesquisa na área da comunicação abre espaço para uma gama muito grande de escolhas de estudo.

Além disso, vê-se que a maioria dos estudantes que optam pela pesquisa na área do jornalismo e das comunicações no geral realizam a iniciação científica de forma voluntária, como é o exemplo de todos os pesquisadores citados acima. Isso ocorre uma vez que a graduação em jornalismo permite o estágio logo no início do curso, sendo uma opção preferida pelos estudantes por conta da remuneração. Assim, iniciações científicas são comumente realizadas em paralelo a uma experiência de estágio.

Isabela Gargano

Lívia Uchôa

Marina Giannini

Sofia Zizza

Revisão: Sofia Zizza e Lara Soares

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