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Remo Universitário: a mais nova modalidade na ECA

ESPORTES

Embora antigo na USP, na ECA, o time é recente. Conheça a prática esportiva e a Ecapivaras, equipe de remo da Escola de Comunicações e Artes

Desde a Antiguidade, o homem desbrava as águas com a força braçal e um único instrumento: o remo. De acordo com o Comitê Olímpico Brasileiro, muitos historiadores acreditam que o primeiro registro da prática do remo foi feito na obra Eneida, do poeta grego Virgílio, ainda em 19 a.C. Outros estudiosos defendem que o verdadeiro marco inicial para o remo aconteceu em Veneza nos anos 1300, local de surgimento do termo “regata” e das provas com timoneiros, resultando nas remadas.  

Apesar das múltiplas possibilidades para a origem da prática, é consenso geral que o remo consolidou-se como esporte na Inglaterra, somente em meados do século IX — o Leander Club, primeiro clube de remo do mundo, nasceu em 1817. O apoio universitário garantiu o sucesso do esporte. Em 1829, as universidades de Cambridge e Oxford adotaram a categoria esportiva, iniciando a realização da tradicional regata no Rio Tâmisa, que ocorre anualmente e revive os primórdios do remo.

Após isso, rapidamente as regatas se espalharam para vários países na Europa e as embarcações, largas e pesadas, evoluíram através de técnicas — como o uso de fibra de carbono para construção — que permitiram resultados cada vez melhores, principalmente pela rapidez com que deslizavam na água. Estas  evoluções contribuíram para uma maior expansão do esporte, permitindo que ele chegasse aos outros continentes.

Em território nacional, o remo chegou no modelo que conhecemos hoje no ano de 1983, nas cidades de Santos e de Porto Alegre. Todavia, segundo a Confederação Brasileira de Remo, há registro da atividade de forma amadora no país desde 1566. A primeira regata disputada em solo brasileiro de que se tem conhecimento aconteceu na enseada de Botafogo, no Rio de Janeiro, em 1851. Nas décadas seguintes surgiram vários clubes e sociedades de regatas, com provas comemorativas realizadas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, São Paulo e Pernambuco.

O Campeonato Sul-Americano de remo, disputa que se iniciou em 1948 no Uruguai e ganhou cunho oficial no ano de 1945 com a fundação da Confederação Sul-Americana de Remo, conta com a participação assídua de diversos países, incluindo o Brasil, que consagrou-se campeão da disputa pela primeira vez em 1954.

Tá, mas como o remo funciona?

O conceito do remo é simples: os atletas, devidamente sentados em seus barcos e de costas para a linha de chegada, utilizam os remos para movimentar a embarcação o mais rápido possível e alcançar o fim do trajeto antes dos outros competidores. Dependendo da modalidade praticada, há mudanças na quantidade de pessoas em cada barco, que podem variar de apenas um até oito, e quantos remos cada um desses atletas irá utilizar, que podem ser apenas um ou dois.

Em relação aos equipamentos, os mais importantes são o próprio barco, os remos, a forqueta e as roupas. O primeiro elemento atualmente é construído de fibra de carbono, com dimensões que variam de acordo com a categoria, mas que, no geral, mantém a proposta de serem embarcações estreitas e com facilidade para ganhar velocidade. Os remos também são um elemento chave, podendo ser feitos de fibra de carbono ou madeira, com tamanhos que também irão variar de acordo com a prova. A forqueta é o local de apoio do remo e as roupas são importantes pois devem ser de tecidos que facilitem a mobilidade do atleta.

O remo é dividido nas seguintes categorias: Sexo (masculino, feminino ou misto), Idade/Nível (Júnior: remadores com no máximo 18 anos, Sub 23: máximo 22 anos, Sênior: a partir dos 19 anos, Master: acima dos 27 anos), Peso (Leve: 72,5 kg para homens e 59 kg para mulheres, Pesado: remadores acima do peso leve), Remo Paralímpico (PR1: remadores que possuem somente mobilidade de ombros e braços, PR2: mobilidade nos troncos e nos braços e PR3: mobilidade nas pernas, troncos e braços) e as categorias Olímpicas (sete masculinas, sete femininas, paralímpico masculino, feminino e misto, este último com três modalidades).

Remo na ECA: ECAPIVARAS

Criado este ano, o time de remo é a mais nova modalidade da ECA. Christian Delphino, atual diretor do remo e organizador do time Ecapivaras, comenta que existiram movimentações para a implantação da modalidade em outras ocasiões, mas os projetos não seguiram em frente por diversas questões burocráticas. “Conversando com o pessoal da Ecatlética, fui posto como diretor da modalidade de remo e oficializamos um time. Busquei um técnico e começamos a divulgação procurando interessados na ECA. O resultado foi que muitas pessoas queriam participar e, agora, já treinamos sozinhos, com horário e técnico só pra galera da ECA.”, relata.

Luíse Silva, caloura do curso de jornalismo, conta que sua primeira experiência em um esporte como o remo foi com a equipe da ECA. “Eu achei uma experiência muito incrível! Porque é um esporte que utiliza diversas técnicas, tem toda uma concentração. Quando você pega o jeito, é maravilhoso! A princípio você sente um pouco de dificuldade, mas com o tempo você se acostuma e começa a gostar!”

Apesar de ganhar espaço entre os estudantes, o remo da ECA ainda enfrenta alguns obstáculos, como a falta de investimento em equipamentos do Cepeusp (Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo).

Raia Olímpica do Cepeusp [Reprodução: Acervo Ecapivaras]

“É uma estrutura, de certa forma, precária. Temos um barco escola e barcos disponibilizados para os alunos que, apesar de bons, dificilmente têm manutenção regular”, destaca Delphino. O diretor da categoria explica que a Raia Olímpica do Cepeusp é aberta ao público e equipes privadas utilizam o espaço, mas fazem uso de equipamentos separados. Os materiais utilizados nos treinos da Ecapivaras são disponibilizados pelo Centro Esportivo. “Como a raia é muito movimentada e a maior parte não é de alunos e pessoas da própria USP, não há tanto apelo universitário, não é uma área com muito investimento. Por exemplo, na parte de trás dos vestiários, tem vários barcos jogados e quebrados, pois não há verba para manutenção.”

Luíse também relata as condições ruins dos equipamentos públicos: “Os equipamentos dos clubes privados, como o Bandeirantes e o Corinthians, são novos. Os do Cepeusp não são nada novos. Inclusive, a academia que tem para os alunos é toda enferrujada, bem arcaica.”

Para além dos problemas com a manutenção, a pouca quantidade de materiais de treino disponibilizada atrapalha a participação de todos os interessados na prática do esporte. Christian explica que o remo, apesar de possuir categorias coletivas, é majoritariamente um esporte individual, demandando uma estrutura que o Cepeusp não possui. Além disso, o barco escola, utilizado pelas pessoas que ainda não estão aptas para o treino na água, comporta apenas quatro remadores por vez. Com a grande adesão dos estudantes pelo remo, os treinos da equipe têm lotado e, muitas vezes, o técnico precisa pensar em novas didáticas para que todos tenham acesso ao esporte.

Yole, barco coletivo que comporta 8 pessoas [Reprodução: Acervo Ecapivaras]

No cenário competitivo, os clubes privados e as atléticas com melhores condições financeiras têm uma hegemonia. “Eles dominam todo o cenário e a gente precisa mudar isso, transformar o remo em um esporte mais democrático”, declara o diretor esportivo. Mesmo com os desafios de utilização, os déficits de equipamentos e as desigualdades dentro da própria USP, Christian afirma: “a ECA tem conseguido driblar tudo isso, acolher todo mundo! Hoje, já passaram 30 pessoas no time e cerca de 20 continuam ativas. Desde o início deste ano, a raia está muito mais diversa e movimentada.” Ele acrescenta também que, embora a estrutura do Cepeusp não seja a ideal, precisa ser valorizada e utilizada cada vez mais. Dessa maneira, o investimento crescerá e o local propiciará igualdade entre todas as equipes.

Participação nos treinos

Aos alunos que tiverem interesse ou curiosidade, basta entrar em contato com um representante da Ecatlética ou membro do time de remo. Os treinos ocorrem na raia olímpica em horários marcados previamente. O barco escola é usado nos treinos para familiarizar os iniciantes à técnica e é nele que ocorrem os primeiros treinos. Em algumas ocasiões, um passeio de barco coletivo é realizado com os novatos. 

Nadar não é uma obrigação, o Cepeusp fornece colete salva vidas para quem não se sente seguro. “Inclusive temos uma pessoa no time que não sabe nadar. A gente não vai negar ou impedir ninguém de treinar por isso! Acho que todos os times têm que ter essa ideia de um esporte de inclusão, acessibilidade e democracia”, conclui Delphino.

Bárbara de Aguiar

Ester Nascimento

Miriã Gama

Revisão: Artur Abramo e Lara Soares

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Universidade de São Paulo - USP | Escola de Comunicações e Artes - ECA | Departamento de Jornalismo e Editoração - CJE | Disciplina: Conceitos e Gêneros do Jornalismo e suas Produções Textuais | Professor: Ricardo Alexino Ferreira| Secretária de Redação: Lara Soares | Editores: Nicolle Martins (Cidadania), Sofia Zizza (Ciências), Julia Alencar (Cultura), Gabriel Reis (Diversidades), Nícolas Dalmolim (Educação), Artur Abramo (Esportes) e João Chahad (Local).

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