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Borboleta

Por: Filipe Moraes, Julia Martins, Júlia Queiroz, Rebeca Souza e Tainá Silva

Editora: Júlia Martins

Ela estava extasiada. Durante os anos do ensino médio e do cursinho, escutou as mais diferentes vozes que passaram por sua vida afirmarem o quão mágico é o ambiente universitário. Por anos, ela se perguntou se teria a chance de fazer parte desse espaço. Claro, a concorrência era uma de suas preocupações, mas sua própria existência era uma questão muito maior.

Desde sua infância, ela sempre soube que era ela. Era mulher. Mas, mesmo com essa certeza ecoando junto com cada batida de seu coração, o medo também estava ali. Afinal, a vivência de pessoas transgênero é cercada por dúvidas, ainda mais no Brasil, marcado pelo estigma violência.

Ela nunca foi poetisa, porém, se pudesse comparar sua vida com algo poético, seria com a de uma borboleta. No início, pensou que viveria para sempre como uma lagarta. Pequena, escondida entre as folhas, com o temor de jamais ser percebida pelos outros. Até que chegou sua fase de pupa: o momento de olhar para dentro de si mesma.

Como toda transformação, foi dolorosa. A garota percebeu que por mais medo que sentisse, precisava sair de seu casulo se quisesse viver. E ela saiu. Saiu ela. Saiu para o mundo e não estava sozinha. Tinha o apoio de seus pais e de seus amigos fiéis. Estava pronta para enfrentar seu mais novo desafio, o de ser uma universitária.

Depois de anos no convívio das mesmas pessoas, era ao mesmo tempo animador e assustador conhecer tantas pessoas diferentes. Ela sentiu o ar de felicidade assim que pisou na Universidade de São Paulo. Enquanto caminhava rumo à Escola de Comunicações e Artes, a futura jornalista não escondeu o sorriso. Seus olhos percorreram cada centímetro. Eles não queriam perder nada de vista, queriam guardar aquela ocasião para sempre.

Quando chegou no prédio da ECA, foi recebida pelos veteranos. De forma gentil, perguntaram seu nome. A garota aumentou ainda mais seu sorriso, sem saber que isso era possível, e respondeu: Elisa. Pela primeira vez, ela se sentiu leve. Tão leve que poderia voar. Assim como uma borboleta.