Anos 60: Clark e Lotus ditam o ritmo da Fórmula 1
Por Sergio Quintanilha
O australiano Jack Brabham já tinha vencido o último campeonato da década passada com carro e motor ingleses. Foi assim também que começaram os anos 1960 na Fórmula 1: com o domínio de Brabham ao volante de um Cooper equipado com motor Climax. O chassi Cooper venceu 8 das 10 corridas da temporada – cinco seguidas com Jack Brabham, uma com Bruce McLaren e duas com Stirling Moss (sendo a última com Lotus Climax e não com Cooper Climax).
O motor Climax esteve presente também nos dois campeonatos levantados por Jim Clark com a Lotus, em 1963 e 1965. Da mesma forma, Jack Brabham ainda foi campeão em 1966, pilotando um carro com seu próprio nome, o Brabham Repco, e viu sua equipe levantar também o campeonato de 1967, com o neozelandês Denny Hulme. Portanto, Brabham e Climax poderiam ser considerados os nomes mais importantes da década de 60. Seria justo. Porém, a história reservava uma dobradinha que acabou superando todas as outras histórias: a do piloto escocês Jim Clark com a equipe inglesa Lotus.
Como dissemos, os dois títulos de Clark pela Lotus foram conquistados com motor Climax. Mas, ao final da parceria Lotus-Climax, a equipe continuou ganhando corridas com o motor Ford Cosworth e continuou inovando. O gênio criativo de Colin Chapman como chefe de equipe da Lotus representou o ápice do domínio dos garagistas ingleses na Fórmula 1 e se estendeu ao longo dos anos 1970, com outras inovações marcantes. De qualquer ângulo que se olhe, a década de 60 foi uma das mais ricas em histórias da F1.
Os carros já não eram refugo do período pré-guerra, como em grande parte da década anterior, e se tornaram extremamente rápidos e difíceis de guiar. Com mais velocidade e com os motores na traseira, os carros passaram a exigir pilotos profissionais mais jovens. Embora Graham Hill tenha sido campeão de 1968 aos 39 anos e Brabham tenha conquistado o tri, em 1966, aos 40 anos, todos os outros títulos foram ganhos por pilotos com menos de 35 anos. Além disso, Clark foi o campeão mais jovem da Fórmula 1 em 1963, com 27 anos, e este recorde permaneceu até 1972, quando Emerson Fittipaldi ganhou o mundial com 25 anos.
O chassi Lotus 18 ganhou suas primeiras corridas com Stirling Moss, em 1960, mas não pelo Team Lotus e sim pelo RRC Walker Racing Team. Somente na última corrida de 1961 o Team Lotus ganhou uma corrida, com o inglês Innes Ireland ao volante do Lotus 21. Clark já era piloto da equipe oficial de Chapman. A primeira vitória de Clark pela Lotus aconteceu no GP da Bélgica de 1962, com o revolucionário Lotus 25, que exigia uma posição de dirigir praticamente deitada. Clark e a Lotus perderam o mundial de 1962 para o inglês Graham Hill, com a equipe inglesa BRM (British Motor Racing), mas ganharam três corridas e dominaram a Fórmula 1 até a morte do “Escocês Voador” numa corrida de Fórmula 2 em Hockenheim, após o primeiro GP de 1968, na África do Sul, vencido pelo próprio Clark.
Clark e a Lotus ganharam 25 corridas, sendo 14 com o Lotus 25, cinco com o Lotus 33, uma com o Lotus 43 e cinco com o Lotus 49. A dobradinha Clark-Lotus manteve-se vitoriosa também quando Colin Chapman decidiu trocar o motor Climax pelo Ford Cosworth, construído pelos engenheiros Mike Costin e Keith Duckworth, sob chancela da Ford. Todas as vitórias do Lotus 49 foram com este motor. Com a morte de Clark, a Lotus manteve o domínio e deu a Graham Hill mais três vitórias em 1968 e uma em 1969, sendo duas em Mônaco. Com as três vitórias que havia obtido pela BRM nas ruas de Monte Carlo, Hill ganhou o apelido de Mister Mônaco.
Hill, Brabham, Cooper, Climax e BRM foram grandes nomes dos incríveis anos 60 na Fórmula 1, mas nada se comparou à mágica dobradinha formada pelo velocista Jim Clark e pelos carros extraordinários da Lotus. Clark foi o primeiro piloto do mundo a quebrar o recorde de 24 vitórias de Juan Manuel Fangio e deixou seu nome marcado como um dos maiores pilotos de todos os tempos – se não o maior de todos.
ANO | PILOTO | PAÍS | EQUIPE | CONSTRUTOR |
1960 | Jack Brabham | AUS | Cooper Climax | Cooper Climax |
1961 | Phil Hill | EUA | Ferrari | Ferrari |
1962 | Graham Hill | ING | BRM | BRM |
1963 | Jim Clark | ESC | Lotus Climax | Lotus Climax |
1964 | John Surtees | ING | Ferrari | Ferrari |
1965 | Jim Clark | ESC | Lotus Climax | Lotus Climax |
1966 | Jack Brabham | AUS | Brabham Repco | Brabham Repco |
1967 | Denny Hulme | NZE | Brabham Repco | Brabham Repco |
1968 | Graham Hill | ING | Lotus Ford Cosworth | Lotus Ford Cosworth |
1969 | Jackie Stewart | ESC | Matra Ford Cosworth | Matra Ford Cosworth |
Sergio Quintanilha é doutorando em Ciências da Comunicação na ECA-USP e escreve sobre automobilismo desde 1989 – twitter: @QuintaSergio