COLUNA DO MEIOCrônicas

Um SALVE ao futebol feminino: mais Martas e Tamires, por favor!

Por Luciano Maluly

Já há tempos, eu acompanho as questões relacionadas ao futebol feminino, uma das minhas paixões como torcedor e futuro dirigente, pois desejo montar um time na região do Vale do Paranapanema, no interior paulista, com meu amigo Adriano José Salles.

Minha influencer  é a professora e pesquisadora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Enny Vieira Moraes. O debate surgiu em decorrência da publicação do livro Fazendo gênero e jogando bola: o futebol feminino na Bahia anos 80-90 (Edufba, 2014),  em que a autora analisa a história das  atletas pioneiras que lutaram contra a cartolagem e o preconceito, entre eles, o bullying esportivo, quando a cobrança ultrapassa as condições de trabalho, para não dizer sobrevivência.

Na última conversa, externamos nossa preocupação com uma possível interferência do futebol-caranguejo na modalidade feminina. Os times avançam com a posse de bola até o campo adversário e, depois, retornam ao ponto inicial sem finalizar a jogada. Logo, não é nem força e muito menos arte.

Pensamos que esse estilo de jogo, que está em moda no Brasil, era privilégio do futebol masculino, mas percebemos que essa má educação pode contaminar as equipes femininas.

Vários times de hoje, especialmente os masculinos, são medrosos, com os e as atletas olhando primeiro para trás. Em vez de tentar um drible, um passe avançado ou um chute a gol, preferem ficar trocando passes do meio campo para trás.

A treinadora sueca Pia Sundhage parece que já percebeu essa dose amarga de futebol ruim e está arriscando um pouco mais, colocando a seleção brasileira no ataque. Observa-se que  as partidas do atual time canarinho são repletas de gols e jogadas individuais, independente da atuação, do resultado ou da equipe adversária.

Relembrei esses dias que, quando garoto, tive um treino com o então jovem professor de Educação Física, José Roberto Maluf Teixeira, no Estádio Gilberto Moraes Lopes, na Estância Turística de Piraju (SP). Um dos exercícios pedia para a garotada não olhar para trás e nem para bola. Você tinha de avançar em direção ao adversário, ou seja, “atacar” na linguagem do esporte. Zé Roberto tornou-se um respeitado professor e treinador de basquete e atualmente vive em Ourinhos (SP).

Mas isso é só uma preocupação, porque o  futebol feminino  brasileiro continua lindo, cheio de garra e graça. A dica para continuar assim é simples: “antes de começar o treino com a garotada, é só apresentar um vídeo com as jogadas das craques Marta e Tamires”.

OBS:
o jornalista Armando Nogueira escreveu em uma crônica, que foi publicada  sua coluna Grande Área no jornal O Estado de S. Paulo, dias após a espetacular  vitória de 5 a 1 do São Paulo Futebol Clube de Telê Santana contra o Universidad Católica  do Chile no primeiro jogo da decisão da Taça Libertadores da América em 1993:  “Reconheço: o jogo São Paulo – Universidad Católica, no meio da semana, já está tão distante de nós como os que se foram há cinco mil anos. Ainda assim, não me sai do pensamento a noite de êxtase, de arrebatamento que viveu o Morumbi. Noite sinfônica.

O governo brasileiro devia pegar o vetê do jogo, tirar cópias, embrulhar para presente, com laços de fitinha verde-amarela. Guardar, bem guardado, numa sala do Palácio do Planalto. Chegou visita estrangeira? Não precisa gastar dinheiro com água-marinha. Depois do rapapé diplomático, dá o teipe do jogo pro distinto.”

FELIZ NATAL E UM 2022 REPLETO DE REALIZAÇÕES

Luciano Maluly é professor de jornalismo esportivo na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. E-mail: lumaluly@usp.br