ISSN 2359-5191

22/04/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 22 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Livro Palimpsestos apresenta proposta criativa de ensino

São Paulo (AUN - USP) - O professor Francisco Maciel Silveira, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH-USP, acaba de lançar a segunda edição de seu livro “Palimpsestos – uma História Intertextual da Literatura Portuguesa”, pela Editora Paulistana. A primeira edição saiu na Espanha, devido à falta de interesse das editoras brasileiras em publicá-lo, por acharem que se tratava de um modo inovador e pouco rentável de se contar a História da Literatura Portuguesa.

A primeira edição do livro, considerado uma proposta criativa de ensino, foi lançada em português, na Espanha, pela Editora Laiovento. O professor Francisco precisou buscar alternativas após a recusa de editoras brasileiras: através de um contato na Universidade de Santiago de Compostela, conseguiu que sua obra fosse indicada para publicação pela Laiovento. O livro foi adotado como material didático em algumas universidades brasileiras, esgotou e foi relançado pela Editora Paulistana – a Laiovento abriu mão dos direitos sobre a impressão caso alguma editora brasileira se interessasse.

O livro conta a história da literatura portuguesa – da idade média ao século XX - de um modo sui generis, selecionando autores importantes e também do gosto do autor. Ao invés do compêndio tradicionalmente presente nos livros que tratam deste tema, Palimpsestos apresenta o personagem samiR savoN, que vê os literatos portugueses e apresenta sua visão poética sobre eles.

Os escritores são analisados pelos olhos deste escritor de Novas Rimas – que nada mais é que o próprio Francisco Maciel Silveira. Escolhe-se um autor, ele é apresentado através de um texto crítico-poético de samiR savoN e, em seguida, o leitor se depara com um texto de samiR savoN que procura imitar o estilo literário do autor em foco.

O título do livro é uma referência à intertextualidade presente nos textos antigos. Palimpsestos eram pergaminhos que eram raspados para serem reutilizados, devido ao alto preço do pergaminho na antiguidade. O texto anterior deixava sombras no papel: a capa desta segunda edição representa mais ou menos o que seria um palimpsesto, com vestígios de textos anteriormente presentes.

A idéia é o diálogo entre autores presente neste trabalho: samiR savoN dialoga com os autores e com seus textos – ele faz textos sobre textos (semelhante aos palimpsestos, só que de forma literal menos literal). Através deste principio básico de intertextualidade, o livro procura ensinar literatura de modo criativo e agradável.

O professor dá aula de Literatura Portuguesa I e II, no curso de Letras da USP, e adota o livro como roteiro na primeira disciplina citada – juntamente com sua colega de didática Flávia Maria Corradin. Longe de ser a única ferramenta de estudo das obras e autores da Literatura Portuguesa, o livro sugere uma forma inovadora e criativa de se estudar, exige participação e “apresenta bons resultados quando os alunos se engajam”.

Palimpsestos traz em si “uma pedagogia menos quadrada” e procura ensinar literatura através de outros textos literários, não isentando os alunos de lerem os originais de cada autor estudado. Junto com o diálogo literário, vem a cobrança que assusta um pouco os alunos: o professor cobra seminários e trabalhos mais criativos, que despertam um lado positivo para a disciplina, ajudando os alunos a trabalharem seu lado lúdico – já teve músicas, “raps” e poesias em trabalhos de alunos seus. Neste tipo de ensino, participação é fundamental.

A idéia deste método nasceu em sua livre-docência ao estudar Antônio José da Silva, o Judeu, que escreveu peças anônimas que fizeram muito sucesso em Portugal no séc. XVIII. Tudo que havia para o estudo deste autor eram os processos inquisitoriais – o autor foi queimado por ser judeu – e os textos de autores do séc. XIX que inventavam este autor desconhecido: a figura de Antônio José foi inventada. (Camilo Castelo Branco escreveu uma novela em dois volumes em que ele criava o personagem do Judeu.) O professor percebeu que estava estudando um autor que havia sido “inventado” por vários outros autores: “havia visões do autor e textos do autor, só.”

Dando continuidade a esta linha de ensino, Francisco Maciel escreveu também um livro sobre Camões - Ó Luiz, vais de Camões? – que atua com o mesmo principio de conversa entre obras: um carnavalesco monta um samba enredo sobre a vida e a obra de Luiz Vaz de Camões a partir da visão pessoal que tem do escritor. Quando dá aulas sobre o escritor português, Francisco parte de peças contemporâneas escritas sobre ele, utiliza seu livro e apresenta aos alunos as obras de Camões.

A falta de divulgação destes trabalhos é prejudicial ao ensino brasileiro e acaba caindo ao autor a função de divulgar a própria obra. Palimpsestos é um livro inovador em sua área e trás em si a busca por uma análise de textos a partir de visões. Vai contra a crítica literária e acadêmica comum e nos introduz ao universo da intertextualidade. “O ensino não pode ser chato” e é nessa busca que a inovação das rimas de Francisco tenta quebrar os conceitos estabelecidos de estudo literário.

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br