São Paulo (AUN - USP) -A atual estrutura da universidade brasileira dificulta a produção científica e a troca de informações entre os profissionais. Este é o veredicto que Hernan Chaimovich, professor do Instituto de Química da USP (IQUSP) e membro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) apresentou em seminário recente realizado na Faculdade de Medicina da USP.
A partir de um estudo comandado pelo sociólogo Simon Schwartzman que trata das universidades na América Latina, Chaimovich critica o fato de 90% da pesquisa científica da região serem oriundos de universidades públicas. Para ele, estas instituições não estão preparadas para serem a vanguarda do desenvolvimento tecnológico, pois funcionam melhor para realizar pesquisa básica.
Hoje cerca de 35% do orçamento da USP é originado por pesquisas, diz o cientista. Porém 85% do dinheiro da universidade vai para o pagamento de pessoal. Assim ele acredita que falte contrapartida e incentivos para a ciência se desenvolver. Como solução defende a criação de novas instituições dentro das universidades, nos moldes dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids). Estes locais teriam como características uma estrutura independente, o uso de diferentes fontes de financiamento, além de um caráter interdisciplinar.
Para Chaimovich, a ciência cada vez mais trata da integração entre as diversas áreas do conhecimento, o que torna extremamente importante a troca de informação e o estabelecimento de uma política científica que aponte um caminho a ser seguido. O desafio, segundo ele, é fazer com que “gente competente sentada em uma mesa discuta ciência com um objetivo único”.
Como exemplo desta relação entre as disciplinas, Chaimovich citou um estudo conduzido por ele e outros colegas do IQUSP divulgado em junho deste ano em que se mostrou a possibilidade de se desenvolver cosméticos que possam servir de proteção contra agrotóxicos. O trabalho se relaciona com a química e com a biologia.
Chileno radicado no Brasil, Chaimovich também coloca a dificuldade de comunicação entre as diversas áreas como um dos grandes entraves para a troca de informação. “Tem que se construir uma linguagem comum”, diz. Para isso, defende uma formação mais geral, em que além de se formar em uma determinada área o cientista também conheça a linguagem de outras. “É um físico ou um químico ou um matemático que sabe falar com o vizinho”, resume.
Uma mostra destas questões aparece no projeto Ano Polar Internacional, que se iniciou em 2007 e se estende até o ano que vem. Este trabalho mundial abarca diversas áreas do conhecimento, da sociologia à física, passando por biologia e química, com o intuito de estudar melhor o Ártico e a Antártida.