ISSN 2359-5191

22/10/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 110 - Saúde - Faculdade de Medicina
Morte na família é melhor assimilada com apoio psicológico

São Paulo (AUN - USP) -A morte de uma pessoa próxima ou a descoberta de uma doença incurável são eventos dolorosos, para todos nós. Mas podem ser menos traumáticos e trazer crescimento emocional se virmos a morte como um evento inerente à vida. Felizmente, já há psicólogos especializados em oferecer o acolhimento necessário para aqueles que acabaram de perder um parente ou sabem que vão morrer em breve.

O objetivo é amparar e ouvir a pessoa em luto para que ela possa validar seus sentimentos, como dor, raiva, culpa ou sensação de abandono e, com isso, evitar traumas e situações mal-resolvidas no futuro. Nos casos de pacientes terminais, o atendimento busca acolher o medo e a angústia e oferecer a possibilidade da pessoa resignificar sua vida diante do fim.

Para a psicóloga Lucélia Elizabeth Paiva, que pesquisou formas de falar da morte para crianças durante seu doutorado na USP, valores como o culto à juventude eterna e o ritmo incessante de trabalho e consumo são grandes obstáculos para que as pessoas possam encarar a morte de uma forma tranqüila. “É comum surgirem nesse momento desejos não realizados, culpas e frustrações, porque temos o hábito de ir empurrando tudo sempre para o dia de amanhã”, diz.

A maior procura pelo acompanhamento durante o período de luto é de mulheres. Os homens, segundo Lucélia, são mais fechados e propensos a passar por cima da morte sem legitimar os seus sentimentos. “Mas quando o homem se dá conta dessa dor, nem sempre consegue lidar com ela, até por não estar acostumado a se permitir sentir”, diz.

Exemplo recorrente da falta de preparo em lidar com o assunto é a "conspiração do silêncio" que ocorre com freqüência entre o paciente e a família durante a proximidade da morte, ou o costume de esconder das crianças o que está acontecendo. “A verdade precisa ser dita para que cada um lide autenticamente com suas possibilidades e sentimentos”, recomenda.

O acolhimento especializado também é importante no cotidiano dos profissionais da saúde, que convivem com a possibilidade da morte. “Na relação com o paciente sempre há uma troca, verbal ou visual, por mais fechadas que as pessoas sejam. E médicos e enfermeiras são preparados para tratar e curar, não para lidar com o fim da vida”, explica. O resultado é a acumulação de angústias e frustrações, que podem gerar dores crônicas, doenças e depressão.

A função do atendimento psicológico, nesse caso, é semelhante à realizada com os pacientes e parentes em luto: abrir um espaço para que as pessoas possam falar sobre o que estão sentindo. “Precisamos reparar e valorizar os sentimentos, por mais tolos que eles possam parecer”, diz.

A consciência da finitude da vida pode trazer resultados positivos e crescimento emocional para quem quiser encarar essa reflexão. Para Lucélia, reconhecer que vamos morrer um dia é um grande passo para valorizar a vida e buscar mais qualidade na relação com o outro.

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br