São Paulo (AUN - USP) -A abundância de neologismos, arcaÃsmos e figuras de linguagem caracterÃsticas do escritor João Guimarães Rosa permite revisões de uma diversidade que parece não ter fim - o mesmo se pode dizer sobre as parábolas bÃblicas. Do trabalho e com esses dois elementos, surgiu o espetáculo âMilagre, milagrim, milagrizinhozinhozinhoâ, da Cia. Komos de teatro de Santo André.
O texto de Mauro Silveira, inspirado na obra âII Primo Miraculoâ do italiano Dario Fo, retoma a poesia do universo sertanejo de Guimarães Rosa para construir uma comédia em torno de um episódio oculto da infância de Jesus. Com atuação do próprio Mauro e de Joca Carvalho, que também é o diretor, a peça trata ainda de temas atuais, como a segregação racial e o abuso de poder.
A peça começa na sacada do histórico Centro de Preservação Cultural (CPC) da USP â Casa da Dona Yayá, no bairro da Bela Vista. Os atores cantam convidando o público a entrar na sala que lhe serve de placo. Segundo Mauro, este é um costume da companhia de teatro e a razão de seu nome: komos vem do grego e quer dizer âprocissão dançanteâ. A partir de então, os atores, premiados no Festival Nacional de Teatro de Ponta Grossa (PR), prendem a atenção da platéia interpretando cerca de 24 personagens.
Apesar do nome da produção remeter ao universo infantil, ela é mais voltada ao público adulto, que pode perceber sua linguagem satÃrica fluida e, ao mesmo tempo, complexa. O que permite que as falas fluam de maneira natural é o contÃnuo trabalho da companhia de teatro com a linguagem de Guimarães Rosa. O grupo já produziu outras três peças inspiradas no autor, relacionando-o a outros escritores e dramaturgos, como Shakespeare.
No entanto, as crianças também se divertem durante o espetáculo, que interage com a platéia de maneira diferente a cada apresentação. âIsso são coisas que vão aparecendo, não estão no texto originalâ, comenta Joca. Mas essas inovações vão sendo registradas, âa grande riqueza de se fazer teatro é atualizar o texto, porque um dia a peça deixa de ser apresentada, mas o texto ficaâ, destaca Mauro.
Visibilidade
Ao final das apresentações, a satisfação do público é nÃtida, no entanto, a divulgação ainda é um problema tanto para os atores, quanto para a casa lhe que serve de sede. âNão buscamos lucro, não sabemos quantas vezes já nos apresentamos para apenas duas pessoasâ, dizem os atores, âno entanto, temos interesse em trazer mais peças para cá, porque a comunidade não conhece a Casa da Dona Yayáâ.
O próprio trajeto para conseguir utilizar o espaço foi comprido: a companhia enviou o projeto para o CPC em 2006 e só foi chamada para se apresentar este ano. Joca e Mauro lamentam a falta de divulgação e de interação com a comunidade por parte da instituição, no entanto, não ficam parados. âAntes das últimas apresentações, colamos cartazes pela região divulgando a peça e anunciando descontos na entrada, o que aumentou o públicoâ, conta.
Em cartaz até 30 de novembro, a peça tem duas sessões semanais: aos sábados, às 21 e aos domingos, às 19h30. O preço normal do ingresso é de R$ 20,00, mas estudantes pagam a metade, classe teatral e aposentados, R$ 7,00.
Para os próximos espetáculos, a equipe lança duas promoções: moradores da região do Bexiga e Bela Vista não pagam entrada, mediante apresentação de comprovante de residência, e estudantes da USP ganham desconto de 60% (pagam R$ 8,00) mediante apresentação da carteirinha. A Casa da Dona Yayá fica na Rua Major Diogo, 353. Para mais informações, ligue para (11) 3091-3930 ou acesse o dite www.usp.br/cpc.