ISSN 2359-5191

28/11/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 134 - Educação - Escola de Comunicações e Artes
Bons jornalistas precisam ter diploma?
Opositor à lei que pede o diploma baseia-se na falta de definição das habilidades específicas da profissão

São Paulo (AUN - USP) -Não há uma definição certa, cunhada por alguém e aceita pela maioria, das habilidades específicas necessárias para a prática do Jornalismo que seriam ensinadas somente no curso superior para a profissão. É com esse argumento que o professor Maurício Tuffani, assessor de comunicação da Universidade Estadual Paulista (Unesp) defendeu a retirada da obrigatoriedade do diploma para o exercício do Jornalismo durante debate na Semana de Jornalismo, realizada recentemente na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Na mesma mesa, Pedro Pomar, editor da Revista Adusp (Associação dos Docentes da USP), defendeu o contrário, a obrigatoriedade do diploma. Também participou do debate a professora Maria Antonioli, das Faculdades Integradas Rio Branco.

Pomar tentou ressaltar que a profissão exige técnicas que são ensinadas durante o curso de graduação, entre elas a apuração e a redação do texto em si. Porém, ele considera como mais importante a formulação de um projeto pedagógico como um todo durante o curso, definindo bem aquilo que se pretende ensinar aos graduandos para suas formações futuras. Ele e a professora Antonioli defendem a obrigatoriedade do diploma, pois o curso deve ser o meio pelo qual é formado um jornalista como cidadão pensante.

Tuffani, em contrapartida, acredita que não existe definição clara sobre o que é essencial para o jornalista e que só possa ser aprendido em um curso universitário. Segundo ele, a formação pessoal do profissional de Jornalismo deve vir das mais diversas áreas, indo desde política até artes. Assim, cursos de graduação seriam importantes, mas para formar o background do jornalista e não especificamente para ensiná-los as técnicas apresentadas por seu opositor no debate. Ele foge da linha de pensamento daqueles que são contra a obrigatoriedade do diploma, dizendo que Jornalismo não se aprende apenas na prática da redação, mas é uma atividade intelectual.

Outro ponto em debate é a importância da pós-graduação na área. Enquanto a professora Antonioli imagina o esvaziamento da pós com o fim do curso de Jornalismo, pois admitiria o fim do interesse acadêmico sobre o assunto, Tuffani acha o contrário, que os olhares sobre a especialização em comunicação seriam intensificados. O assessor da Unesp, apesar de ser contra a obrigatoriedade, concorda com aqueles que não aceitam o argumento de se acabar com a necessidade do diploma porque o curso de Jornalismo é mal formulado. Para ele, se isso for válido, muitas outras profissões deveriam deixar de pedir diploma ao contratar pessoas, já que a situação de muitos cursos no Brasil é precária.

Enquanto Tuffani tem como seu principal argumento o fato de nunca alguém ter definido as qualificações específicas que alguém aprende apenas durante o curso, Pomar defende a obrigatoriedade do diploma dizendo que esta é a última conquista que a classe dos jornalistas conseguiram. É uma maneira de se proteger contra a concorrência externa e, mais importante ainda, se proteger contra a política de baixos custos que as empresas jornalísticas vêm empregando há tempos. Essa prática já é utilizada através dos freelancers, empregados sem contrato e, portanto, mão-de-obra mais barata. Além disso, estagiários são contratados e acabam trabalhando como efetivos. Para dar mais respaldo ao seu argumento, o editor da Revista Adusp lembra da condição de jornalista provisionado: no caso de localidades em que o curso de Jornalismo não é oferecido, exercer a profissão sem o diploma de ensino superior é permitido por lei.

O exemplo de países como a Itália, onde o diploma não é necessário, é dado pelo professor Tuffani. Ele lembra que há qualidade entre os jornalistas italianos, mesmo que eles não tenham que passar obrigatoriamente por um curso de graduação. Assim, segundo sua percepção, o curso não seria preponderante para que existam bons jornalistas. Apesar disso, ele acha importante que a regulamentação seja mantida, e também dá o exemplo de países que não possuem a obrigatoriedade, mas possuem regulamentação.

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