São Paulo (AUN - USP) -Sociologia e Fotografia. Ascensão e declÃnio, recontados pelas lentes sensÃveis à s marcas de um tempo de esplendor industrial e do conseqüente silêncio dos escombros atuais. Com lançamento marcado para o dia 27 de novembro, pela Editora Edusp, no Bar Canto Madalena, o novo livro do sociólogo e fotógrafo José de Souza Martins reúne, em três ensaios, crônicas e imagens registradas nos últimos anos, a fim de recontar a história social da desindustrialização ocorrida em conglomerados urbanos da cidade de São Paulo. O livro é parte da coleção Artistas da USP.
O primeiro ensaio, "Estação visual", é um documentário sobre Paranapiacaba, a primeira vila operária no planalto paulista, concebida segundo o princÃpio do panóptico de Jeremy Bentham, ou seja, uma prisão sem muros, cujo capataz era o próprio medo interior dos trabalhadores. Cento e quarenta anos depois de iniciada, esta vila vive a sua decadência com o declÃnio do transporte ferroviário, especialmente o de passageiros.
O segundo ensaio registra o dia em que foi feito o desmonte final das máquinas da Fábrica de Linhas Pavão, na Vila Pompéia, depois de 80 anos de funcionamento. âNo fim da tarde estava tudo reduzido a ferro velhoâ, conta Martins.
O terceiro e último ensaio é o de caráter mais pessoal. Também reduzida a ferro-velho após 90 anos de funcionamento, as ruÃnas da Cerâmica São Caetano são de forte lembrança para o sociólogo: âTrabalhei na fábrica quando era adolescente. Foi onde me tornei adultoâ, relembra.
Em comum, todos os ensaios expressam a busca do fotógrafo pela estética das sombras, do vazio e do que é finito, mas também a intenção de interrogar aberta e sociologicamente o silêncio, sublinhar a natureza da imagem e do que ela documenta, entender o momento da sociedade passa a sobreviver apenas como traço, sobra e sombra, rabisco da existência humana e social. Um livro para ter em mãos, com os sentidos abertos e dispostos a ouvir e tocar o silêncio do que, agora, é apenas lembrança.