ISSN 2359-5191

07/05/2009 - Ano: 42 - Edição Nº: 20 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Trabalho feminino é preterido nas artes

São Paulo (AUN - USP) - As produções menos aceitas por críticos e acadêmicos no âmbito artístico são as femininas. Quem faz essa afirmação é a professora da USP, Ana Mae Barbosa, ex-presidente da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas e da Internacional Society for Education trough Art , além de diretora do Museu de Arte Contemporânea da USP. Para ela, as obras femininas são apenas toleradas, não há reconhecimento e, dessa forma, são pouco conhecidas.

Na visão da pesquisadora, hoje muitos usam argumentos baseados na idéia de que o feminismo é algo ultrapassado. Por isso, uma organização de mulheres visando expor seu trabalho em conjunto é, para os defensores desse ideal, algo humilhante o qual mostra inferioridade e mediocridade, quando não uma estratégia em busca de se tornar visível. Caso elas estejam em uma exposição predominantemente masculina as pessoas encaram suas obras como algo de valor menor, coadjuvantes.

Salienta ainda que esse fenômeno de exclusão da mulher do meio artístico é histórico e classifica como impressionante o apagamento da mulher da história. Somente as modernistas são reconhecidas, até por espírito de igualdade da época; entretanto não se deve esquecer do boicote de Monteiro Lobato à Anita Malfatti o qual, para a professora, deveu-se ao terror que o tema da obra (“ambigüidade sexual”) tratado por uma mulher causou ao escritor, muito mais do que à novidade de seu estilo.

Outra característica que corrobora a tese de Ana Mae Barbosa é o fato de as mulheres serem, com freqüência, lembradas somente pelas gravuras. Essa é uma arte considerada de segunda categoria e barata se comparada à pintura e à escultura. E no Brasil tivemos grandes artistas como Yolanda Mohalyi, húngara naturalizada brasileira, uma das responsáveis pela introdução do abstracionismo no Brasil; como Maria Martins, escultora com trabalhos expostos e reconhecidos internacionalmente, muitas vezes lembrada apenas como amante de Marcel Duchamp; entre outras vítimas do esquecimento.

A pesquisadora se diz atualmente muito interessada na questão da mulher artesã que, para ela, “é submetida a uma exploração capitalista terrível” pelos intermediários da produção, além do não reconhecimento total por parte da família. Entretanto enfatiza que há alguns projetos os quais visam transformar esse potencial das artesãs em algo único do qual possam se sustentar e ter orgulho, é o caso do Projeto Piracema.

Esse projeto nascido no Rio Grande do Sul já se estende por outros estados do país e tem como objetivo formar profissionais para atuar em programas de aproximação entre o design e o artesanato. Ele utiliza o encontro da tradição e da cultura das artesãs com a atualização e técnica dos designers a fim de estabelecer uma troca de saberes. O resultado tem sido muito positivo e alguns homens passaram a bordar ou entrar em outras áreas do projeto devido à ascensão observada nas mulheres.

Para Ana Mae Barbosa, esse é um bom exemplo de como as mulheres devem ser, muito mais do que toleradas, reconhecidas por sua arte. Ela ainda relata que todas as pessoas participantes do projeto dizem “olhar as coisas de forma diferente”. Conclui afirmando que em nosso mundo, no qual a imagem é tão importante, criar um objeto é também criar um pensamento.

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