ISSN 2359-5191

24/12/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 127 - Saúde - Universidade de São Paulo
Procuram-se diabéticos neuropatas

São Paulo (AUN - USP) - A falta de voluntários é o grande empecilho para o andamento de uma pesquisa que relaciona fisioterapia e diabetes. Após um ano do início das atividades, 12 diabéticos neuropatas estão sendo acompanhados. Mas a expectativa é acompanhar 40. Segundo Isabel de Camargo Neves Sacco, professora da Faculdade de Medicina da USP e orientadora da pesquisa, a localização da USP, distante de muitas regiões de São Paulo, é um dos fatores que dificultam o acompanhamento. A pesquisa, feita pela mestranda Cristina Dallemole Sartor, tem como objetivo prevenir ou retardar o aparecimento de uma das complicações crônicas da diabetes, a neuropatia, por meio de exercícios fisioterapêuticos que possam ser feitos pelo próprio paciente, sem acompanhamento de um especialista.

A neuropatia diabética, ou “pé-diabético”, é uma doença que acarreta a perda de sensibilidade nas extremidades do corpo, com maior gravidade nos pés. Costuma acometer cerca de 50% dos diabéticos, após 10 anos do desenvolvimento da doença. Seu aparecimento é consequência da própria diabetes, devido à toxicidade da glicose em excesso no sangue. A glicose destrói a mielina, a camada de gordura responsável por garantir a plena transmissão dos impulsos nervosos de um neurônio ao outro. Sem mielina, as conexões nervosas são mal conduzidas, como acontece com fios desencapados.

A perda de sensibilidade faz com que o paciente corra riscos. Muitos se queimam ou se cortam sem perceber. O problema é agravado no caso dos pés, que recebe toda a carga do corpo sobre si. O ferimento pode se tornar ulcerativo, pois custa a cicatrizar já que o pé é usado constantemente, sem muito descanso. A própria diabetes traz consigo outras complicações, como o menor número de células de defesa no sangue – os chamados macrófagos – e, em alguns casos, problemas vasculares que complicam a cicatrização. O ferimento aberto é porta de entrada para microorganismos que podem agravar o quadro. Um exemplo é a infecção dos ossos , ou osteomielite, que muitas vezes leva à amputação.

Outras complicações, causadas pela própria diabetes, são a perda de força muscular e de flexibilidade nos pés e tornozelos, com o endurecimento do colágeno, uma proteína que compõe tecidos e ligamentos. Além dos pés mais enrijecidos, o diabético costuma apoiar a pisada na região anterior do pé, sobrecarregando um tecido que é mais fino, mais desprotegido.

Para lidar com tantas complicações, a comunidade científica tem recomendado o uso de sapatos ou palmilhas adaptadas para os diabéticos neuropatas. Os sapatos, em couro com sola de borracha grossa, são vendidos em média por R$700. Já as palmilhas, feitas sob medida para o paciente, custam em torno de R$200. Nenhum deles é disponibilizado pelo SUS. Segundo a professora, a ideia de “enjaular para proteger” acarreta em mais perda de flexibilidade. O que a pesquisa propõe é reabilitar as funções motoras do paciente, por meio de determinados exercícios fisioterapêuticos que melhorem a percepção da sensibilidade, aumentem a força muscular e resultem em ganhos funcionais. A neuropatia é irreversível. Mas os sintomas – como o formigamento e a perda de força muscular e movimento – podem ser abrandados, segundo Isabel.

A metodologia consiste no seguinte: os pacientes são avaliados previamente no laboratório, para a identificação da neuropatia diabética. Os indivíduos selecionados passam por um tratamento fisioterapêutico de uma hora de duração, duas vezes por semana, por três meses no laboratório. São propostos exercícios progressivos, feitos sem auxílio do fisioterapeuta, para fortalecer músculos e ligamentos de várias partes dos pés e tornozelos, ampliar os movimentos, treinar o equilíbrio e melhorar a marcha, incluindo subir e descer escada. Após as 12 semanas de fisioterapia, são reavaliados. A partir de então, os pacientes devem fazer os exercícios em casa. Uma última reavaliação é realizada após três meses. A expectativa é de que os resultados alcançados em laboratório sejam preservados sem que os pacientes precisem ser acompanhados de perto por um fisioterapeuta. “Estamos buscando a independência dos diabéticos. Não adianta trocar um sapato de R$700 por um fisioterapeuta particular que cobra R$200 por sessão, ou por um sistema de saúde público cuja procura por fisioterapia nunca é 100% atendida”, declarou a professora.

Resultados preliminares, feitos com dois pacientes, já demonstraram resultado positivo na pressão plantar. Todos alteraram sua forma de andar, de maneira autônoma. O objetivo final da pesquisa, que deve ser concluída em 2012, é a produção de uma cartilha que seja distribuída por toda a rede pública e privada de saúde do país, com exercícios que possam ser realizados em casa, sem acompanhamento fisioterapêutico e sem equipamentos caros.

A participação na pesquisa é voluntária, e restrita a pessoas entre 45 e 65 anos, não-obesas e de ambos os sexos. Mas não há restrições para quem tiver interesse em ser avaliado. Basta entrar em contato com:

Laboratório de Biomecânica do Movimento e Postura Humana – LaBiMPH
Depto. Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, Faculdade de Medicina da USP
Rua Cipotânea, 51, 05360-160, São Paulo – SP
tel.: 11 3091 8426
email: crisartor@gmail.com
site: http://medicina.fm.usp.br/fofito/fisio/pessoal/isabel/labbiomec.php

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br